domingo, 29 de novembro de 2009

O acidente



Pessoa na janela - Salvador Dalí

Fingi não ouvir quando ele me chamou. Não queria que me aborrecesse mais do que aquela prova estúpida que havia feito naquela manhã. Ele falaria de tudo aquilo em que não acredito. E não quero acreditar. A vida é simples: vida e deixe viver. Não há nada demais nela, basta que eu faça o meu melhor, de acordo com minha cabeça e...

-Com licença, você já ouviu falar de Bahá'u'lláh?

Pronto, lá vem. "Barrá-o-quê"? Que falta de bom-senso dessas pessoas... Se elas têm sua fé, ótimo! Não me venham aborrecer!

-Não, não. Com licença, estou com pressa.

Fiquei culpada de ter sido ríspida com ele, mas fazer o quê... Aquela maldita prova! Com certeza estou de final e vou baixar meu IRA e desperiodizar. Droga de Curso, droga de vida.

(FOOOOOM, FOOOOOM!) (CRASH!)

GAZETA DO POVO, dia seguinte - Morreu ontem estudante de Medicina, atropelada na Rua Dr. Faivre, foi levada às pressas para o Hospital Nossa Senhora das Graças mas não sobreviveu (...)

* Bahá'u'lláh. Era esse o nome. Obrigado. Obrigado.

domingo, 15 de novembro de 2009

O Ensino a um comunista 1


Gustav Klimt - Water Serpents II

Chega pra vc um comunista, daqueles super esquerdistas que já leram tudo do Marx, anarquismo, acham Cuba o máximo e ainda sonham com a revolução do proletariado. Ah! Detalhe: São materialistas. Deus para eles é apenas uma forma de controle que os que estão na classe dominante usam. Como ensinar a Fé?

Iniciaria falando sobre a mudança do mundo (é o que temos em comum):

Vivemos tempos difíceis. Temos hoje o potencial de vivermos todos trabalhando pouco e todos com um certo nível de conforto. Mesmo assim, permanece a maioria da população mundial trabalhando muito e com péssimas condições de vida. Não podemos mais suportar essa situação, o ser humano não foi criado para suportar inerte tamanha injustiça!

Nesse ponto o camarada está concordando com tudo, e vc ainda não falou em Deus. Captou sua atenção.

A mudança necessária não poderá vir de cima para baixo. Somos seres pensantes e muito questionadores de autoridades impostas. Não daria certo impor a igualdade, impor a irmandade ou impor a Unidade entre os homens. Isso parte de cada um deles. Em suma: a transformação precisa ser de baixo para cima.

Mostra uma idéia nova, um ponto de vista interessante, encaminha o pensamento.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Segunda, dia de finados


The Conversion of Saul by Michelangelo Buonarroti 1475 – 1564

Pedro desejava sair passear. Caminhar descalço nalguma praia não seria nada mal. Ouviu a voz de sua esposa lhe pedindo para comprar alguma coisa, obrigando sua mente a retornar a seu mundo incompleto. Isso o irritou um pouco.

Ao retornar com as sacolas irritou-se ainda mais com os latidos furiosos do cachorro do vizinho que pegara uma antipatia especial por ele. Pedro não odiava animais, somente aqueles que o incomodavam. Entrou em casa em silêncio e depositou as compras sobre a mesa.

Decidiu continuar sua leitura de "O velho e o mar", já era a 3ª vez que lia aquele livro e acreditava piamente que os clássicos deveriam ser apreciados várias vezes, como um bom vinho.

Quando principiava a leitura, já se tranportando para a companhia do sofrido pescador com quem simpatizava como se fosse seu falecido pai, ouviu a voz de suz esposa cortar o ar e atingi-lo. Havia esquecido as azeitonas.

Jogou o livro na parede, pegou a carteira e voltou ao mercado. Sua vida parecia demasiado estafante e naquela semana não fizera amor nenhuma vez com a esposa. "Talvez seja isso que a motive a me perseguir", pensou, já mais calmo por ter encontrado uma razão lógica para seus conflitos não-resolvidos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O infarto



"Blue nude - Pablo Picasso"

Ele se olhou no espelho, viu um estranho. Quisera ser como os cachorros, que vivem em ciclos iguais de rotina. Não suportava a pressão de ter que viver novas experiências dia após dia. O desconhecido o assustava devido ao seu pessimismo e desconfiança com relação ao destino e já não esperava mais nada de ninguém.

Parou de se alimentar. Engolir a comida o chateava, e decidir o que comer era um martírio. Vivia entre a dura decisão entre o que gostava e o que lhe fazia bem para a saúde. Pensando agora soa estranho, do que vale boa saúde em um suicida?

Não, ele não se mataria. Não tinha coragem suficiente. A vida toda fora covarde e continuaria a se arrastar pelo resto de seus dias, fingindo ser o que não era. sorrindo para todos com uma máscara de espinhos cravada em sua face. Engoliria toda a amargura daquela existência e na velhice, já com os seus netos dançando diante de si, saberia então que valeu a pena cada segundo.

Chamou então a esposa, com quem dividiu a alma, e tentaria em vão lhe transmitir o que sentia. Consciente disso, a abraçaria com os olhos ainda secos, seu peito apertando cada vez mais e o desejo do desconhecido renascendo de sua recém-nascida fé em Deus.

Morreu em paz.

domingo, 18 de outubro de 2009

A traição



Meninos Brincando, Portinari, 1955

Ele já sabia o que iria acontecer. Quando abrisse aquela porta, a imagem que sua retina iria refletir já estava em sua mente, seria apenas um dejà ju. Mesmo assim, tremeu ao tocar o frio metálico da maçaneta.

O giro da engrenagem cortou o silêncio de sua casa, e hesitou por um momento antes de escancarar a porta. Quando o fez, porém, arrependeu-se de não ter tido a coragem de virar às costas e ir embora sem nunca mais falar com ela.

Trocaria o número do celular, não, jogaria o celular no rio. Era homem suficiente para ter uma atitude irracional de vez em quando, apenas quando a situação exigisse. Ela o procuraria nos hospitais, ligaria para a polícia, iria até mesmo nos necrotérios da cidade. A incerteza seria seu castigo. O sofrimento dela seria inúmeras vezes maior que o dele, que conhecia o início meio e fim da história, por mais dolorosa que ela fosse, estava pronta para ser resolvida em sua mente.

Sua auto-estima já estava recuperada 3 meses depois do incidente. Aguardava, com uma certa ansiedade, sua próxima viagem. Chegaria em casa novamente de surpresa e sentiria o mesmo frio metálico nas mãos. Mas dessa vez não se arrependeria de mais nada.

-Benzinho, me traz um copo d'água?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O gafanhoto verde e o pequeno dragão


"Os Operários, Tarsila do Amaral"

Os treinei nos caminhos da sabedoria, com paciência e ousadia nos momentos certos. Gafanhoto estava sempre logo atrás de mim, sempre observando atento. Afeiçoei-me a ele, e ele a mim. Ia firme e irresoluto em cada passo que eu dava, ele adquiriu confiança em mim. E eu lhe ensinei tudo o que sabia. O pequeno dragão era mais distante, acabei por não dar muita atenção a ele.

Quando já não havia mais nada a ensinar, o gafanhoto se foi. Entristeci-me no início, mas logo me conformei, como mãe-pássaro que observa contida seus filhotes alçarem vôo.

Logo, o pequeno dragão seguiu o mesmo destino. Era impaciente, depois fui descobrir. Mas tudo correu bem e mesmo sem ter certeza, creio que seguiram com segurança seu destino até o fim.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fanático, eu?



Lavrador de café, por Cândido Portinari

"A essência do amor consiste em se volver o coração para o Bem-Amado, se desprender de tudo, menos dEle e nada desejar, salvo o que for o desejo do Senhor."

Bahá'u'lláh


Este será um post mais íntimo.

Acredito que todas as pessoas próximas a mim e até mesmo aqueles nem tão próximos assim, puderam perceber minha mudança brusca no jeito de ser. Isso se deveu a uma nova forma de ver a vida, forma essa que vem da religião que agora eu sirvo, a Fé Bahá'í.

O primeiro ponto a ser esclarecido é o que me levou com tanta força a este Caminho, o que me fez abdicar tanto das minhas próprias concepções anteriores e abraçar com esforço aquilo que Bahá'u'lláh orienta. Há duas respostas óbvias para essa pergunta, e inúmeras outras que dependem de fé e estão envoltas no maior mistério, e que não cabem a mim tentar desvendar.

A primeira resposta óbvia é no sentido positivo da questão, pois ao conhecer o plano divino de Bahá'u'lláh para este mundo, ao conhecer Seus Ensinamentos, ao conhecer a forma como são aplicados os remédios que Ele traz para o mundo conturbado em que vivo, eu me encantei perdidamente. De fato, meu coração se extasia quando penso no Dia em que as coisas serão como Ele quer. Então minha mais alta aspiração tornou-se servir a esta Causa.

A segunda resposta óbvia é no sentido negativo, ou seja, imaginar minha vida sem a Causa de Deus é imaginar uma existência sem sentido. Um ser humano que nasce, cresce, se reproduz e morre sem deixar para trás sem deixar os melhores frutos que puder, de acordo com sua capacidade individual, é um desperdício. Eu estaria desperdiçando minha vida se vivesse de outra forma.

Muitas vezes me questiono se não estaria sendo fanático. E é bom que eu faça isso. Porém, cada vez que reconstruo minha trajetória nesses últimos 3 anos e cada vez que leio um trecho dos Escritos Sagrados, cada vez que meu coração se enche da mais pura alegria, simplesmente por ter deixado de seguir meu ego e obedecido a uma orientação de Bahá'u'lláh; eu tenho mais certeza de que não poderia estar sendo mais honesto e sincero comigo mesmo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Livro - "A Cabana" de William P. Young


Vale a pena, isso eu posso dizer com segurança. Por quê? Bem, depende de quem vc imagina como sendo Deus. Mas independente da forma como vc imagine, ela é errada (por ser limitada a capacidade humana) então o livro te dá um novo ponto de vista.

Além de ter essa carga espiritual, é um livro ótimo pela praticidade, é fácil de ler, vai rapidinho, a história é bonitinha, emocionante em vários momentos e muitas pessoas pelo mundo se empolgaram bastante com o livro.

Novamente: vale a pena ler!

sábado, 22 de agosto de 2009

Alvorada


Raphael (Raffaello Sanzio or Santi), St. George Fighting the Dragon, 1504-06

O ciclo se inicia e nunca é fácil no começo. Ele aguardou até seus cadarços o carregarem para a rua, as mãos anuíram, já se acostumaram com a textura pegajosa da massa. Foi encontrar o primeiro em seu quarto, deitado observando a manhã virar tarde. Bastou o primeiro chamado, ele se levantou e vestiu sua armadura de imediato. A guerra já havia começado para aquele valente guerreiro havia anos.

O segundo tardou mas veio, ansioso. O tempo gritou que já não permitia cerimônias, então oraram e esporearam seus corcéis para o campo de batalha. Venceram, por ora, precisarão de mais que isso para continuarem vivos. E eles sabem disso.

"A melhora do mundo pode ser realizada através de ações puras e boas, de conduta louvável e digna"

Bahá'u'lláh

domingo, 16 de agosto de 2009

Primogênito



Henri Matisse "La Musique - 1939"

E havia este homem. Extrovertido, risonho, participativo. Tornou-se meu filho e eu o acolhi como tal, de acordo com o que me era possível fazer. Dei de mamar. Levei ao médico. Troquei suas fraldas. Cantei para ele dormir. Faltou o pricipal e as más-companhias (sempre elas!) o levaram para longe de mim, sua boca se abriu e seus olhos se fecharam.

Quando era noite, ele berrava, eu o ouvia. Desesperado, chorei. Tive vergonha, mas o amor me impedia de deixar de acreditar nele como outros fizeram. Sabia que o sol viria, meu único temor era não estar ali para abraçá-lo quando seus raios nos acolhessem.

O sol surgiu no horizonte agora pouco. Eu continuo rezando.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A natureza humana


Pablo Picasso- two women on the beach

Ah, o caminho espiritual...

Como é belo trilhá-lo! Alimentar-se de confiança em Deus, que crescimento existe na obediência! Eu me encanto com essas coisas e profundamente maravilhado com a vida e suas potencialidades, busco o Inatingível.

Abrir mão do que te dá prazer, sentindo prazer por isso. Masoquismo? Não! É amor, o mais puro amor. E a recompensa por isso não está após a morte, está aqui e agora, pois a verdadeira natureza humana é DOAR-SE. E quando se atinge a natureza da sua existência é impossível escapar da mais extasiante felicidade...

domingo, 9 de agosto de 2009

Ensino da Fé



Van Gogh, "Noon:rest from work" (1889-90)

Sábado, ontem, participei de uma campanha de ensino da Fé Bahá'í. Basicamente, após recitarmos orações, cantarmos músicas e treinarmos a apresentação da Fé, nós saímos para as ruas, tocando campainhas ou patendo palmas nas casas, na esperança de que alguém nos receba para ouvir sobre esta nova religião mudial. Para mim não é nenhuma obrigação tediosa, muito pelo contrário, fico animado e me sentindo muito empolgado quando saio ensinar a Fé, ainda mais se estiver com mais amigos. Nas primeiras vezes que participei de campanhas assim me sentia estranho, afinal de contas, se eu estivesse em casa e alguém chegasse querendo me ensinar sobre alguma religião, eu dificilmente toparia. Mas a Fé Bahá'í não é simplesmente "alguma religião" e todos que estão dispostos merecem ouvir sobre ela; por isso nos sujeitamos a sermos inconvenientes em algumas situações, para que aqueles que estão aguardando por esta Revelação possam dessa forma encontrar o que anelam tanto sem saber.

E como vale a pena!

domingo, 2 de agosto de 2009

A escolha


"Não te contentes com o ócio de um dia passageiro, privando-te do repouso eterno. Não troques o jardim de infindável deleite pelo monte de pó que é o mundo mortal. De tua prisão, ascende aos gloriosos prados do além e, de tua gaiola mortal, alça teu vôo até o paraíso do infinito."

Bahá'u'lláh

Tenho sido apresentado, claramente, nesta e em outras passagens das Escrituras Sagradas, a grande escolha que cada um de nós precisa fazer neste mundo a cada momento da vida. O "mundo" ou Deus? A matéria ou a espiritualidade? Eu ou o outro?

A escolha certa é óbvia, mas nem por isso a faço sempre. O prejudicado não sou apenas eu, mas toda a humanidade sofre quando decido pelo egoísmo... Que responsabilidade!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O mais doce


"Nada há mais doce no mundo da existência do que oração. O homem deve viver em estado de oração. A condição mais bendita é a condição de oração e de súplica. A oração significa conversar com Deus. A maior realização ou o estado mais doce não é outro senão a conversação com Deus. Esta cria espiritualidade. Cria atenção e sentimentos celestiais, produz novas atrações do Reino e gera as susceptibilidades de uma inteligência superior.

'Abdu'l Bahá

Esse profundo texto me leva sempre ao pensamento de definição do que seria o "estado de oração" de que nós seres humanos devemos desfrutar o tempo todo. O próprio autor define a oração, facilitando a árdua tarefa: orar é conversar com Deus. E o que significa conversar com alguém? Uma conversa pressupõe duas partes que se comunicam de alguma forma. Da nossa parte, é muito simples: Deus é onisciente e onipresente, ou seja, tudo o que nós fazemos, dizemos ou pensamos chega até Ele, e assim nos comunicamos o tempo todo com nosso Criador. Mas e como ouvir o que Deus tem para nos dizer?

As Escrituras Sagradas são a resposta. Deus envia Sua mensagem de uma maneira que podemos compreender: no templo humano, com o Espírito Santo o preenchendo. Assim, para que ouçamos as palavras de Deus, temos que nos valer da Figura de Seu Porta-voz.

Ler as Escrituras é ouvir o próprio Deus. Quando conversamos com alguém mais experiente, convém ouvir mais do que falar. Quanto mais isso é verdade para Aquele que tudo conhece! O hábito de leitura das Escrituras ao amanhecer e anoitecer gera espiritualidade, a grande carência da nossa época. Memorizar passagens também conduz a um maior aproveitamento das mensagens divinas, pois então podemos "ler" na nossa própria mente, em quaisquer momentos que quisermos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A MUDANÇA DO MUNDO


Não é preciso descrever os motivos pelos quais a mudança do mundo é necessária, basta olhar em volta para se reconhecer que chegamos a um ponto incômodo e não é preciso ser profeta para prever um futuro catastrófico.

Diante disso, o melhor que o ser humano tem a fazer é dedicar seu tempo a pensar em maneiras para que seja feita a mudança do mundo, transformando-o em um lugar mais amigável para se viver.

Para que se mude o planeta é preciso que pelo menos a maioria dos seres humanos mude individualmente de forma a caminhar para as proximidades do fim do egoísmo, o grande responsável que permite que nós sejamos indiferentes ao sofrimento de um semelhante e que impede em última instância que algo seja feito na prática.

Assim, temos o primeiro desafio:

Que força poderia conter as manifestações do ego? Qual poder conseguiria fazer com que acreditássemos num mundo melhor ao ponto de dedicarmos nossa vida a esse trabalho? O que nos impediria de desistir se os resultados tardassem a vir? Como nos convencer a trabalhar por algo que somente seria observável gerações a frente?

É óbvio que nenhum poder humano poderia fazê-lo. Assim, recorrer ao poder sobre-humano é o caminho natural para aqueles que anseiam por esta mudança. O poder sobre-humano é observado em algumas pessoas que de tempos em tempos surgem na Terra com um tipo de atração natural que induz outras pessoas a admirá-los e a obedecerem aquilo que eles dizem, acreditando de forma inexplicável que estes seres são capazes de tudo e que trazem a verdade até então desconhecida.

Estes indivíduos especiais podem, mesmo depois de muito tempo já falecidos, influenciar o imaginário do ser humano produzindo nele mudanças profundas de caráter e de pensamento, ao ponto de criar civilizações inteiras baseadas em suas palavras e em seus exemplos de vida.

Os seres que são capazes de tamanha façanha parecem estar dotados de certa indiferença para seus próprios egos, suportando sofrimentos que inspiram aqueles que conhecem suas histórias de vida a depositarem neles uma confiança acima da confiança que têm em si mesmos.

As civilizações que nascem inspiradas por estes seres sofrem porém de um mal comum: após eles falecerem, outros homens se utilizam do poder que emanou deles e desviam esse poder para saciarem seus egos, maculando a lembrança original e efetiva do sobre-humano com suas próprias imaginações.

Quando isso acontece e já não se pode discernir entre o que era e o que foi modificado, surge então outro ser sobre-humano dotado dos mesmos potenciais influentes inexplicáveis e o ciclo se reinicia, como o dia e a noite.

Isso até o ano de 1844.

Neste ano, houve a manifestação de um ser sobre-humano que iniciou uma revolução espiritual na Pérsia, chegando ao ponto de em poucos anos, influenciar a vida de 1 milhão de persas (cerca de 10% da população) a crerem em sua mensagem.

Tamanha a influência que este indivíduo provocou que dezenas de milhares de pessoas, entre homens, mulheres e crianças, deram suas vidas por acreditarem em sua mensagem, sofrendo as torturas e mortes mais cruéis e inimagináveis.

Este ser especial cujo título era O Báb foi assassinado em 1850 por um pelotão de 750 soldados armados com fuzis, aos 31 anos, na tentativa frustrada de que cessasse assim sua influência. Sua mensagem que tanto causou animosidade era principalmente anunciar e preparar as pessoas para a vinda de outro desses seres especiais sobre-humanos, que viria em breve.

Foi o que aconteceu.

Em 1863, um persa conhecido como Bahá’u’lláh afirmou ser aquele profetizado anteriormente por todos os seres sobre-humanos do passado, inclusive pelo Báb. A exemplo deles, passou por sofrimentos indescritíveis e influenciou não apenas aqueles ao seu redor, mas os que o conheceram muitos anos após seu falecimento. E continua a influenciar.

Bahá’u’lláh iniciou uma nova civilização que está protegida contra aquilo que corrompeu as manifestações do passado: interpretação humana. Ele estabeleceu um convênio preservando sua mensagem, que hoje se traduz na mais pura união de pessoas comprometidas com o serviço de construção de uma nova realidade mundial. Assim hoje podemos viver num dia não precedido de noite.

Nesta comunidade criada por Bahá’u’lláh, o trabalho voluntário de seus membros, impulsionado pela fé que têm, é direcionado por uma administração a níveis local, nacional e mundial, permitindo melhor uso dessa força. Os trabalhadores, que são conhecidos como bahá’ís, acreditam na natureza espiritual da existência, na harmonia entre a ciência e a religião, na eliminação dos preconceitos, na igualdade entre homens e mulheres e num futuro sem guerras.

Assim, está viva a esperança de uma mudança mundial, impulsionada por forças sobre-humanas e produzida por mãos humanas, como somente poderia ser.

“Uma vida nova, nesta era, está vibrando em todos os povos da terra; contudo, ninguém lhe descobriu a causa nem percebeu o motivo.”
Bahá’u’lláh

domingo, 12 de abril de 2009

Deixar um mundo melhor

O Cavalo de Tróia -Raoul Lefevre

A residência é um tipo de estágio para o médico, ele é funcionário do hospital, trabalha na especialidade que escolheu, tem suas responsabilidades pois já possui um CRM. Porém há duas diferenças quanto a profissão médica normal: ele tem professores para auxiliar nos momentos difíceis e ele trabalha como um cavalo.
Digo cavalo porque assim passa a idéia mais precisa da coisa. Basicamente, o residente passa às vezes 72h seguidas trabalhando, ainda tem que arranjar tempo para estudar, afinal este é o último momento dedicado ao aprendizado, antes de se lançar a carreira de verdade.
A condição dos residentes é péssima porque vale a pena para o hospital pagar pouco. Mas por que eles não se organizam e conquistam direitos para toda a classe? Simples. Falta interesse, já que são apenas poucos anos como residente, que passam rápido para quem já batalhou 6 anos pelo menos como estudante de medicina, nem é taaanto assim...
O fato é que essa mentalidade perpetua a massacrante rotina da residência. Com o mundo também parece ser assim. Sabemos todos que vamos morrer, então não nos dedicamos muito para deixar um mundo melhor. Alguns por acharem que após a morte tudo acabou-se, outros por acharem que a vida verdadeira é a do espírito, então não importa muito esta vida aqui. O planeta ficará para as próximas gerações, cada vez mais deteriorado. A sociedade cada vez mais doentia. Até que resolvamos cuidar desta vida aqui também. Cuidar dos que virão, sacrificando nossos interesses por este ideal.
Levando para a prática, como cuidar desta vida aqui? Adquirir virtudes, fazer o bem... Bom, Deus já nos deu a receita:

"A melhora do mundo pode ser conseguida através de ações puras e boas, de conduta louvável e digna."

Bahá'u'lláh

segunda-feira, 30 de março de 2009

De quem é a força?


"Ó tu que estás te volvendo a Deus! Fecha teus olhos a tudo o mais, e abre-os para o reino do Todo-Glorioso. A Ele, exclusivamente pede o que quer que desejes."
'Abdu'l Bahá

Eu erro muito, e se posso dizer isso é porque pelo menos estou percebendo meus erros (esse é o lado bom!). Percebo meus erros e consigo discernir qual virtude me faltou naquele momento, seja a paciência, seja o desapego, seja a moderação... Isso, graças a Deus, estou apto a fazer na maior parte do tempo. O que agora estou começando a perceber, e é o que 'Abdu'l Bahá salienta nessa passagem, é que meus erros podem diminuir muito se eu começar a pedir a Deus, mentalmente mesmo, pelas qualidades que necessito. E funciona!

Agora até mesmo para trocar uma lâmpada, peço a Deus em pensamento que me auxilie.

sábado, 21 de março de 2009

A Chave


"O que quer que fizeres, faze-o no espírito da renúncia, tendo em mente a Mim, o Senhor do mundo. Deixa a Mim o cuidado pelo Sucesso; pensa em Mim e oferece-Me o teu coração e a tua alma"
Krishna

A frustração me limita, a culpa me cega, a raiva me conduz ao erro. A liberdade dessa prisão está na chave da submissão, reconhendo minha impotência em dirigir meu destino e em garantir sucesso em minhas empreitadas.
É como na música do Engenheiros... "é pouco... mas é tudo o que eu posso oferecer... é quase nada... mas é tudo o que eu posso oferecer..." assim é minha vida e meu serviço a Deus, O Que sempre perdoa, O Que ouves e está prestes a responder.

domingo, 8 de março de 2009

A Presença do Manifestante


"(...) Até seus próprios nomes, eles haviam esquecido; seus corações estavam vazios de tudo que não fosse a adoração por seu Bem Amado..."
Nabíl

Que tipo de influência poderia fazer com que uma pessoa sã esquecesse seu próprio nome? Ora, a memória tem um componente emocional e pode ser influenciada pelas emoções fortemente, mas a ponto de esquecer uma informação tão arraigada quanto a nossa própria identidade hay que haver uma força sobre-humana. Fico me perguntando que tipo de vias neuronais levaram a essa "pane" no sistema límbico hipocampal de um ser humano, que neurotransmissores foram descarregados e em que regiões do cérebro... Quem sabe esteja aí um caminho para descobrir a íntima relação entre o espírito, influenciado pela vibrante presença do Manifestante, e o corpo, onde se manifestam esses efeitos colaterais como a perda da memória, a estupefatação e contentamento sem iguais.

PS: Nabíl é um historiador da Fé Bahá'í, neste trecho contando o estado que ficavam os amigos enquanto na presença de Bahá'u'lláh em Sua casa em Bagdá, então capital do império Otomano (1856).

domingo, 1 de março de 2009

No olho do furacão


"E assim a alma se une à carne; e, quando abandona o corpo carnal, volta a Mim com os perfumes que colheu no mundo terrestre, assim como o vento leva consigo a fragrância das flores por onde passou"
Krishna

E então me descubro vento, não mais carne e osso. Vento, que por capricho divino passa por este mundo, e que esbarra nos outros ventos que aqui foram soprados... Como sairei desse encontro de ventos que visto de fora deve ser não menos que um furacão? De uns pegarei um sopro em outros deixarei um sopro meu, e todos sem exceção voltarão com um perfume mais rico.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Nada normal


Dei uma cotovelada no DVD, na partinha móvel onde se coloca o disco. Ela desencaixou e fui tentar arrumar, resumindo: piorei o estado do aparelho. Para uma pessoal normal isso seria apenas um contratempo normal do dia-a-dia, totalmente compreensível afinal "shit happens"...

Mas eu não sou nada normal.

Para mim, a situação toda foi arquitetada e armada por Uma Força Superior, Deus, com o intuito, imagino eu, de me ensinar a paciência. Sim, eu tento ver uma razão em tudo e a razão sempre é Ele e as virtudes que Ele faz com que eu desenvolva pouco a pouco.

Bahá'u'lláh diz que "Eu te fiz aparecer e destinei a teu ensino todo átomo que existe e a essência de todas as coisas criadas". Alguns diriam que não faz sentido existir uma razão maior por detrás de um acontecimento tão simples... Eu acho que não faz sentido existir um acontecimento sem uma razão maior.

Mas talvez seja apenas porque eu não sou nada normal.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um novo olhar


Já acreditei que vivia para ser testado, que a vida era um grande vestibular, onde os testes se acumulavam e meus erros estavam sendo computados para no fim derradeiro serem esmiuçados sob minha consciência aflita e culpada, fazendo com que eu me arrependesse finalmente de não ter me dedicado mais a Deus e o serviço a Ele, que desde então já sabia serem os motivos reais de viver neste mundo de ilusão.

Que péssima visão!

Hoje vejo a vida como desenvolvimento, aprendizado. Como poderia ser testado se ainda não fui ensinado realmente? Aqui é o momento de aprender, vivo num maravilhoso campo de aprendizado e evolução em que constantemente me deparo com situações designadas para me ensinar virtudes divinas, como o desapego, a paciência, a humildade... Virtudes imprescindíveis na vida espiritual saudável que, se A Abençoada Beleza permitir, pretendo cultivar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O serviço


Tenho andado inquieto, tentando entender o que significa viver para servir. Lembro-me de ter lido uma frase uma vez que me chamou muito a atenção "Aquele não vive para servir, não serve para viver", não sei quem é o autor. Com certeza eu não alcancei esse desenvolvimento espiritual em que o apaixonado dedica cada instante da existência a servir alguém, minha mente ainda foca nas minhas próprias necessidades, e durante o dia pratico muitas ações baseado unicamente no meu bem-estar.

O bem-estar que construo com ações egoístas não é um bem-estar real, é apenas um leve torpor que se dissipa rápido e logo estou vazio. Por outro lado, notei que quando ajo pensando no bem-estar do próximo, mesmo as coisas mais simples de se fazer, sou tomado por um Bem-estar, este grifado com maiúscula, pois é um estado de pureza de espírito que me arrebata a alma. Sinto-me em casa e o efeito é prolongado.

Percebo que meu objetivo é a servitude plena. Quero dizer levantar da cama e direcionar imediatamente meu pensamento ao serviço, e não descansar até chegada a hora de me deitar. O desafio agora é aprender como servir de forma eficiente. O que fazer? Para quem? Como conseguir animação para não arrefecer com o tempo ou com as dificuldades? Como enfrentar as críticas com dignidade?

Continuo buscando.