quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

AArgh

“Antes de levar ao forno temperar com essência de espírito de porco, duas xícaras de indiferença e um tablete e meio de preguiça, eles sabem rapazes!”

Falo pra todo mundo que Legião é massa. Só que nego não acredita. Fico de cara com isso, então resolvi botar aqui no blog mais abandonado que já tive tudo o que eu acho dos caras.

Renato Russo.

Esqueça a vida dele, depois que vi aquele especial da globo “por toda a minha vida” fazendo uma mini-biografia do Renato, me assustei. Escute a voz e só. Ah, também seria bom se vc conseguisse achar graça nos comentários dele entre as músicas ao vivo, tipo “Se não for masturbação, use camisinha, Hem!” (eu sei que estou pedindo demais.)

Ah! E as letras são ótimas, rock em português eu ainda não conheci nada comparável.

Se você parar pra viajar nas letras, vc vai longe (quem não aprendeu a cantar (e esqueceu) faroeste caboclo?) E as melodias também distraem, quem nunca desafinou “é preciso amaÁÁar as pessoas como se não houvesse amanhãa...”

É, compre um CD magrão! vai ser clássico daqui uns anos. (original que eu sei que vc tem condições)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Ah, o Amor...


Conhecendo-se o amor o que há mais nessa vida para conhecer?


Muitos se enganam quando dizem amar.


Dizer "amo!" sem estar absolutamente certo disso é mentir. A certeza do amor não deixa dúvidas, existe e existirá sem findar, pois já era antes de ser conhecido e será após ter-se realizado e consumado, indefinidamente além da matéria do pó.



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Que maior sonho do que saber amar?


Os que sabem fazem simplesmente deixá-lo brotar e cuidam tal qual flor ornamental. Muitas são as pragas que acabam por esmagar o amor que cresce naturalmente no coração humano. Poucos os que as reconhecem e as afastam de seu alcance.


Para os que sabem, reservada é a Glória!


O desejo mais anelado de todo ser, cumprir o mandamento "amar a todos", deixar o jardim do amor florescer numa eterna primavera que não cessará em exalar o doce odor atraente para todo coração atento, ser o jardineiro fiel de Deus e com Ele celebrar os encantos do Amor.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Qualquer coisa que se escreva sobre a vida parecerá piegas. Não importa o quanto seu comentário seja sincero e profundo, ele estará condenado irremediavelmente ao pieguismo. Isso porque essa idéia da vida como algo concreto e palpável é falsa, a vida é etérea e indefinível(piéégas).

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Um sonho espírita que tive um tempo atrás me mostrou o quanto seria chato a vida de alma sem corpo na Terra. Um espírito vivendo entre os vivos corpóreos é apenas um coadjuvante esquecido no palco, sua evolução é limitada pois habita terreno involuído, em desacordo com seu estado. Imaginar que Deus não teria criado um mundo para abrigar essas almas é falta de imaginação, afinal se o universo material já é infinito, o que dizer do potencial que tem o universo além-matéria?

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"Há quem remova as dificuldades a não ser Deus? Dize: louvado seja Deus! Ele é Deus! Todos são Seus servos e todos aquiescem ao Seu mandamento"

O Báb

Ele é Deus! Como uma frase tão óbvia pode estar carregada tão profundamente de significado?
Ele é Deus! E quem haveria de contrariá-lo?
Ele é Deus! Quem poderia se dizer independente Dele?
Ele é Deus! E quem poderia encontrar felicidade em outro?

Louvado sejas Tu, Ó meu Deus, por ter me haver concedido permissão para Te louvar.
Querido por todos Tu és, mesmo por aqueles ainda de olhos fechados, pois seus corações guardam a semente que Tu depositastes em tempos imemoriais.

sábado, 21 de julho de 2007

Sobre um desconhecido

ele continuava esperando, sentado no banco da praça sem nenhuma preocupação com conforto, pernas cruzadas esticadas pela calçada. observava o tráfego e pensava em si mesmo, esse eterno desconhecido. Por que esperava ali se tinha absoluta certeza de que ela não apareceria? Por que insistia em permanecer ali, sendo que nem ele mesmo queria que ela aparecesse? Sim, um traço da sua personalidade se revelava, seu masoquismo sentimental era evidente. Caso ela viesse ao encontro, ele a teria diminuta em seu conceito, esnobaria-a inconscientemente, como um troféu que no dia seguinte ao da conquista é apenas de metal.

Então descortinou-se a sua frente todo seu futuro amoroso. Não importaria quantas mulheres cruzassem seu caminho, todas elas estariam fadadas a seguir o mesmo modus operandi: ou perdiam o interesse ou seriam desinteressantes. A hipótese de haver uma mulher que o amasse e que ao mesmo tempo fosse amada por ele era impossível pois uma condição excluía a outra. Seu interesse era diretamente proporcional ao desinteresse da pretendente.

Nenhum desespero. Nem sequer um resíduo de desapontamento ou medo. Encarando a situação, uma calmaria interna se estabeleceu e ele compreendeu que não poderia ser diferente, mesmo porque ele não queria que fosse. Não queria mudar, não havia motivo para isso em sua cabeça; estava tudo em concordância com o que deveria ser.

Restavam para ele duas opções no campo afetivo. Ou se apartava de qualquer sentimento significante, acorrentado a uma indiferença amarga para que assim não sofresse e não fizesse outros sofrerem por amor; ou apostava num amor platônico, e ao entregar-se ao idealismo dos poetas românticos estaria livre do maior sofrimento que o amor pode infligir: o de nunca ter amado.

Sem êxito nem hesitação, estava decidido.

"Amarei às escuras. Afugentarei a solidão com sombras nascidas do segredo. Inventarei histórias, devaneios que me distrairão do mundo real. Será como um eterno viver no momento mágico antes da conquista, quando ainda as dúvidas sobre o futuro são saboreadas vagarosamente pelo amante. Evitarei a certeza, fugirei da exatidão, navegando meu barco de fé, a favor do vento e indo em direção ao infinito."

domingo, 1 de julho de 2007

Aborrecimentos

O que você queria ler aqui? Alguma curiosidade que possa enriquecer um diálogo qualquer durante o dia? Alguma idéia que possa reciclar e adicionar as suas próprias? Talvez seja somente um empenho em conhecer melhor o Luiz Henrique.

Caso seja isso, satisfarei seu desejo. Sou anormal. Esquisito, até mesmo chato às vezes. E não falo só num rasgo de falsa modéstia de quem espera um comentário que diga "não, não, você é gente boa". Apenas reproduzo as palavras do meu próprio pai, sangue do meu sangue, que está desconcertado com minhas atitudes ultimamente.

Hã? Que atitudes? ahh sim, nada demais. Uma delas é que virei freqüentador assíduo de uma Igreja Evangélica, apesar de não ser apenas cristão. Isso o deixou confuso, afinal eu era ateu até bem pouco tempo atrás, e já havíamos tido conversas acaloradas sobre a existência ou não de Deus. Eu estava errado. Apenas reconheci o meu erro e mudei meu rumo, nada fora do comum (ou talvez infelizmente seja).

Também passei a ouvir música clássica, gospel, Chico Buarque e drum'n'bass. Esses estilos são apavorantes para quem está acostumado com Chitãozinho e Xororó e o máximo que engole é um JOta Quest, eu entendo. Fica chato.

Por último, mas não menos importante, sou um novo vegetariano. Não apenas isso, sou vegetariano numa família tradicionalmente do Sul, com seus churrascos indefectíveis nos finais de semana. Longe de mim qualquer momento "dono da razão" em que discursaria contra o consumo de carne, eu sei o quanto esse papo é chato. Mas será que somente pelo "ser vegetariano" já pode ser considerado chateante?

Talvez não. Mas se você é um crente ouvinte de música clássica vegetariano telespectador de TV Senado, é provável que sim. Tenciono mudar o título do blog para "Boringlessness" ou aportuguesado "bóringlésnés". Se bem que assim vai ficar chato.



Constatação



Ninguém lê postagens longas. É tempo demais investido numa leitura que potencialmente será infrutífera. Ao invés de reclamar dos leitores preguiçosos, resolvi me adaptar e começar a postar textículos. Também percebi que uma imagem, qualquer que seja, é importante para chamar a atenção, então procurarei sempre que possível adicionar uma (mesmo que não tenha muito a ver com o tema do texto).

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Por que assistir: Click



O filme tem todo o jeitão de ser uma comédia pastelão consagrada pelo estilo Adam Sandler, mas quem apostar nisso se surpreenderá como eu me surpreendi. A profundidade dramática e filosófica que emerge da imaginativa hipótese de se inventar um controle remoto para a vida impressiona pela qualidade das metáforas retratando a realidade imediata do capitalismo competitivo em que vivemos, onde a família é preterida ao sucesso profissional. Desmontando o mito comum de que se busca o status profissional para angariar melhores condições para a família, Frank Coraci desmascara os workaholics e de quebra empreende uma visão holística da vida de uma forma que exige uma reflexão do público.

O saldo do filme é híbrido, pois agradará tanto a quem busca um filme divertido quanto (e estes ainda mais) a quem busca um filme reflexivo com uma mensagem a trazer. Se ainda não assistiu, aconselho seriamente a fazê-lo. Se já assistiu mas não entendeu a crítica ao “american way of life” (se é que isso é possível), aconselho seriamente a assisti-lo novamente.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Abrolhos


A natureza é um desafio. Limites não passam de degrais amedrontadores. Valeu Ricardo, Martim, Rebeca, Keyla, Tio, Jacob, Sara, que perseveraram. Valeu Bia e Geison, que também mereciam ter apreciado a vista maravilhosa lá de cima.
Até a próxima, Marumbi.

quinta-feira, 31 de maio de 2007



Vida e morte são apenas etapas inevitáveis para um mundo material, etapas da natureza em que o indivíduo não passa de um corpo animado por descargas elétricas no córtex cerebral.

Vida e morte são apenas etapas inevitáveis também para o mundo espiritual, mas não etapas esquecidas num obscuro verso na história do universo, e sim etapas necessárias ao desenvolvimento a que todos ansiamos.

(não perca de vista o sol por detrás da imagem)

domingo, 27 de maio de 2007

O homem não criou Deus

A diferença entre um teísta, um agnóstico e um ateu é que o primeiro tenta responder, o segundo diz que não sabe, e o terceiro nega a pergunta.

Imagine que, ao amanhecer de algum dia aleatório, sem qualquer razão que justificasse, todos os seres humanos do planeta fossem acometidos de uma cegueira súbita ao despertar. Como ninguém soubesse que o mal era com seus próprios olhos, e com a evidência óbvia de que a estranheza também se abateu sobre seus semelhantes, a razão humana não demoraria a nos informar de que o Sol cessou de emitir luz, por algum motivo qualquer. Caso existisse um único homem são, com olhos normais, este poderia contrariar a tese e usar seu próprio exemplo como prova. Porém, se não fosse posta diante desse ímpar privilegiado, convém crer que a grande massa desprevenida da visão não creditaria veracidade ao fato, insistindo na hipótese do defeito solar. Voltando ao início da suposição e cegando também aquele tal que havia escapado furtivamente, não haveria dúvida, o Sol é o responsável, o astro rei de fato teria deixado de emitir sua benfazeja luz e nossos olhos assim tornados inúteis, não pelo ocorrido com ele, mas sim pela ausência da luz para adentrá-lo e atingir a retina.

Talvez os mais imaginativos tenham feito brotar em suas mentes algumas incongruências no meu exemplo acima, tal como a possibilidade de se emitir luz por meios artificiais. Confesso que a história deixa brechas, e por isso, trabalharei o exemplo um pouco mais.

Imagine que, novamente com todos os habitantes do globo, que ainda permanecem cegos, toda a sensibilidade ao toque seja tolhida do corpo. Isso mesmo, além de cegos estaríamos incapazes de tatear os objetos e pessoas, e mesmo que o fizéssemos, não nos daríamos conta. Além do que nos sentiríamos flutuando no ar, inseridos numa quimera de pavor. O que diria nossa razão? Difícil dizer, mas não seria de estranhar se fossem ouvidos brados de “fim do mundo!” pelas ruas (que já não podem se dizer ruas, visto que os pés não sentem mais o chão). Teria assim o Mundo acabado, e todos nós, apesar de fisicamente estarmos deitados em nossas camas, ou estirados no chão, imaginaríamos estar vagando no limbo, ou no inferno, onde somente o som serviria de bússola para nossas atormentadas almas.

Com as tragédias hipotéticas acima, tentei expor a relatividade existencial do Universo. O que existe é apenas o que nós humanos, com nossa mente, podemos conceber. Toda essa exposição foi apenas para chegar a essa pergunta: se todos do planeta acordassem, de novo por razão ignorada, ausentes de sua crença em Deus, e ausentes até de qualquer idéia do que fosse esse Ser Todo-poderoso, deixaria assim Deus de existir? Ou seja, Deus é criação humana?

Questão delicada. Analisemo-la mais a fundo. Caso na mente humana ocorresse tal façanha, seria não apenas uma lacuna de Alguém para nos ditar a moral e os costumes acertados, mas principalmente Alguém para nos apontar da onde viemos e para onde vamos. Seria não apenas uma lacuna de Alguém para Quem se dirigir súplicas e agradecimentos, mas principalmente Alguém para nos explicar o surgimento do Cosmos e até mesmo o objetivo da vida. Então, diante de tal espantoso quadro, restariam para nossa raça dois caminhos a seguir. Ou retomávamos a busca filosófica iniciada há imemoriais tempos (desde que o primeiro homo sapiens se perguntou “como é que eu vim parar aqui?”) e interrompida bruscamente pelo acontecimento da primeira linha, reconhecendo novamente Deus (ou pelo menos o aspecto de Divindade, já que não teríamos o auxílio dos Seus Manifestantes para nos ajudar a caracterizá-Lo) e Sua existência superior e eterna, empreendendo uma limpeza de dogmas, mas com a essência da Fé preservada; ou então o baque que originou a lacuna que tivemos seria tão violento na alma que não nos perguntaríamos mais acerca da vida e suas implicações filosóficas, semelhante a como procedem os animais que chamamos irracionais, incapazes de tecer um raciocínio de tal magnitude.

Conclusão: Deus não foi criado pelo homem, pois mesmo que não O reconhecêssemos, Ele existiria.

Mas ainda não é o fim. Os mais imaginativos (aqueles mesmos que falsearam meu primeiro exemplo) já devem estar considerando a hipótese de a humanidade não cultivar a Fé em Deus, mas mesmo assim preservar a racionalidade característica da raça, em outras palavras, virarmos todos ateus.

Sabemos que os ateus compõe uma minoria residual, minúscula proporcionalmente, no planeta. Mas também sabemos que geralmente os ateus são pessoas com uma certa bagagem intelectual, filósofos famosos, cientistas promissores, professores capacitados. O porquê disso eu abordarei em outra ocasião. Prossigamos por ora com o hipotético planeta cético que nos tornamos. Deixaria assim Deus de existir?

Não. Não justamente porque o ateu precisa de Deus, nem que seja para negá-Lo. Precisam de teístas para fazer um contraponto, vivem da contestação, sua argumentação é destrutiva, não construtiva. Sem Deus, o ateu perde o mote de sua crença ao avesso, seu parasitismo teórico e precisa buscar uma resposta satisfatória do Gênese por si mesmo, o homem é um ser que precisa crer, se não que sua existência tem um porquê, pelo menos que tenha um “como”. Já não bastaria dizer “Deus não existe”, como o fazem hoje em dia, mas seria necessário precisar alguma informação em que depositar a Fé. E o que seria isso? A população em polvorosa exigiria que as grandes mentes encontrassem algo palpável. Big bang não basta. Ovo cósmico hiperdenso continua insuficiente. Flutuações quânticas soa poético, mas continua sem responder. Por fim, os cientistas encurralados na necessidade de preencher a imensurável lacuna da ciência, diriam que estamos aqui por acaso, não se sabe como, porquê, para quê, para onde vamos, da onde viemos, nem se conseguiremos um lugar na janela. E a massa estupefata reconhecerá pragmática a deficiência ideológica do “ateísmo-racional-científico-só-acredito-no-que-me-provam”, e sem hesitar o povo iniciará a inevitável caminhada de evolução espiritual, começando por admitir a própria ignorância e reconhecer Alguém de fato sábio.

Dúvidas de Nietzsche

“Deus pode criar uma pedra que Ele não possa carregar?”

Friedrich Nietzsche

Quando divagamos sobre a personalidade divina em busca de um específico conhecimento, o único material que dispomos para ser feita uma ponderação segura é Sua obra. E para responder essa pertinente pergunta, uma análise do livre-arbítrio humano será suficiente.

Deus nos presenteou com a liberdade. Ao nos criar livres, Deus criou um dom do espírito cujo poder de controlar não apetece a Ele. Em outras palavras, Deus criou um caractere alheio a Sua vontade, com poder próprio de criar e decidir qual caminho trilhar, seja ao Seu lado ou não. Somos como uma pedra especial, dotada de alma imortal, que Deus não pode carregar contra a nossa vontade, mas que festeja no maior júbilo quando aceitamos Seu amor e seguimos o caminho que Ele nos indica. Considerando esses fatos, a resposta fica mais fácil de ser engendrada.

Criar a matéria seria um desafio para Quem tem o poder de criar a vida? Porventura não sois mais do que uma pedra? E Deus o tendo feito teve o poder de fazer-te, e podendo salvar sua alma, quando assim tu quiserdes, Ele tem o poder de carregá-lo.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

"...E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais"

“Eu vi Cristo ser crucificado/ o amor nascer e ser assassinado/ eu vi as bruxas pegando fogo/ pra pagarem seus pecados/ Eu vi Moisés cruzar o Mar Vermelho/ vi Maomé cair na terra de joelhos/ vi Pedro negar Cristo por três vezes/ diante de um espelho.”

Na história de um homem que viveu dez mil anos, começar falando de religião é no mínimo acertado. Nesta estrofe, Raulzito corrobora a Fé judaica, cristã e islâmica, dando testemunho dos feitos dos respectivos profetas que deram corpo a elas; e utilizar as três grandes religiões monoteístas da humanidade como exemplo é a melhor maneira de abordar universalmente a Fé em Deus.

No terceiro e quarto versos, a constatação dos males que a religião tem o poder de causar, à primeira vista, as bruxas podem ser detectadas como vítimas da Igreja Católica medieval, mas deve-se pôr nessa conta também outros casos de morte por discordância religiosa, cuja motivação é idêntica. As bruxas foram queimadas sim, mas não por algum motivo maléfico ou cruel, mas apenas porque a crença geral era de que elas eram pecadoras e sofrendo tal martírio, além de se estar obedecendo a uma vontade de Deus, as “justiçadas” dessa forma poderiam adentrar no paraíso. É quase compreensível, se levarmos em conta a mentalidade medieval, quando o homem carecia de parâmetros mais paupáveis do certo e errado. A sabedoria popular expressa isso no famoso ditado “De boas intenções o inferno está cheio”.

Por fim, o verso mais enigmático e significativo. Quem conhece a história bíblica, sabe que Pedro não estava diante de um espelho no episódio da negação, mas sim respondendo a uma indagação de uma multidão enfurecida. Então quem é o sujeito que contempla o tal espelho? Se fizermos uma transposição desse adjunto adverbial para o início do período (português não é maravilhoso?) e colocarmos antes dos objetos diretos, fica assim: “Eu vi, diante de um espelho, Cristo ser crucificado, (...) Pedro negar Cristo por três vezes.” É claro que a sonoridade fica destruída, mas podemos extrair a quintessência da estrofe, que indica a característica mais marcante da religião, a realidade vista por um viés de introspecção. Todos aqueles acontecimentos sagrados que o tal sujeito de idade milenar viu foram dentro de si mesmo, ou seja, não tem a necessidade de terem acontecido historicamente da maneira como foram narrados, isso é apenas um detalhe. O que importa mesmo é a Fé do observador, que tem o poder de dar todo o perfil de realidade que um acontecimento precisa. Grande Raul.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Parábola do Rio caudaloso

"Abençoados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus." Mateus 5:3

O conhecimento é como um Rio caudaloso, do qual nós homens permanecemos inicialmente a sua margem. Os que decidem por não sair do solo firme, ou ir somente até onde dá pé, estão a salvo pois são humildes de coração e reconhecem a existência do perigo do Rio, sentem-se agraciados pela presença concreta do rude chão sob seus pés. Muitos, porém, descontentes com a situação, atiram-se n'água dando início a uma grande aventura em busca da outra margem, que não sabem com certeza se será melhor que a que deixaram para trás, mas seu espírito os impele nessa Fé. Parar de nadar significa afogar-se na maior das ignorâncias, pensando ter encontrado terra firme quando abaixo de seus pés nada tem de sólido para seu sustento. A arrogância é como uma âncora te impedindo de continuar, puxando inconscientemente para baixo. O amor é uma bóia muito útil, porém poucos têm a paciência do manuseio, requer fortes pulmões para encher e tem uma forma esquisita, onde cabem dois, três ou até mais, mas para apenas um fica incômoda e acaba por atrapalhar. No meio do Rio, à vista de todos, figura um enorme Rochedo a que podemos nos agarrar com firmeza e trilhar um caminho mais seguro. Alguns dos aventureiros, porém, preferem nadar por si mesmos, confiantes do poder de seus próprios braços, alguns criticam os que utilizam o poder do Rochedo, chamando-os de fracos demais para aceitar o desafio sem ajuda. As críticas dos que nadam sozinhos também atinje os que permaneceram na margem cuja Fé é a de que um dia chegará um barco para carregá-los, alguns podem até ouvir o motor ao longe, mas os nadadores solitários corcordam entre si que esse barulho é sem sentido, e não virá barco algum. Assim, considerando todos os que procedem diferente deles como incapazes, continuam a tentar alcançar por mérito pessoal a margem oposta , uns agarrando-se nos outros, confiando na perícia dos que parecem ser melhores atletas que eles, no afã desvairado de encontrar apoio qualquer ajuda que seja. Não é fácil acompanhar as elaboradas braçadas de tais atletas, mas eles acreditam cegamente que assim chegarão mais depressa. Na outra margem alguns, mais avançados na travessia (em geral os que decidiram por agarrar-se ao Rochedo), já conseguem divisar Jesus Cristo entre os bem-sucedidos.

Se entendeste, ótimo. Se não, leia abaixo:

Metáforas
Pobres de espírito: satisfeitos com a ignorância;
Até onde dá pé: conhecimento racional básico, não filosófico, noção acerca fenômenos físicos;
Atirar-se n'água: Buscar respostas filosóficas de cunho metafísico;
Rochedo: Fé em Deus;
Atletas: Cientistas;
Barulho do motor: Presságios dos profetas;

A nascente do rio é Deus.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Autocrítica - Internet

Tudo bem que foi em 2005, mas sempre vale a pena corrigir as bobagens que posto aqui. Essa sobre a internet foi uma redaçãozinha de apenas um parágrafo, nada relevante, com opiniões iconoclastas contra a rede, acusando-a de que a aproximação que ela cria é superficial, artificial, vazia de sentido. Nessa época eu escrevia só como teste, então não me senti tão culpado por ter uma opinião fajuta dessas. O fato é que a internet é muito mais do que eu poderia imaginar nos auge dos meus 16 anos. Ela é a melhor ferramenta já criada pelo homem, um acervo de conhecimento inigualável, por ser algo vivo, dinâmico e ilimitado. Ora, se eu, um simplório estudante que possui mais pretensão do que conhecimento, já tem disponível na rede suas opiniões e idéias, o que dirá os que realmente têm assuntos mais importantes e retórica trabalhada, tá tudo aí, só depende de você ir atrás. Aqueles que limitam a internet classificando-a desmerecidamente como eu fiz naquela ocasião, são os que permanecem ignorantes do conteúdo magnífico que ela possui. E se você tiver noções básicas de inglês, as opções exponencializam-se.

Orkut - os críticos (geralmente tiozões que não entenderam direito, ou internautas que não obtiveram êxito em sua rede de contatos e/ou número de scraps) salivam ao enumerar os supostos malefícios que o site traz, alienação social, profiles enganadores que na sanha por popularidade são capazes dos subterfúgios mais inusitados como fotos sem camisa no perfil ou as famosas frases feitas à guisa de resposta para aquela perguntinha impertinente "quem sou eu?", as comunidades de "eu amo fulano de tal" ou "sou amigo/conheço cicrano" nas quais os fulanos e cicranos, debruçando-se na tentativa de amealhar mais membros para atestar uma suposta popularidade, inundam as páginas alheias com pedidos assaz insensatos de adesão, que a política da simpatia nos impede de recusar. Porém, para os que não se deixam levar pela aparente capa de superficialidade, abre-se um leque de opiniões, pensamentos, explicações, debates versados sobre os mais variados temas, que surpreendem pela profundidade, pois não só de palhaços compõe-se o orkut, mas também marcam presença estudiosos e especialistas que contam com formação elaborada. O bom e velho ócio criativo, e quando você perde o medo de opinar nalguma comunidade séria, deixa de ser tempo dispendido à toa para tornar-se não apenas um método de desenvolvimento argumentativo, mas também uma possibilidade de vislumbre da realidade de uma outra forma que talvez você julgasse impossível, uma evolução de pensamento benemérita que pode pôr fim a indagações claudicantes que nos permeiam rotineiramente.

O segredo da vida deve estar nalguma página sombria num canto recato da internet. ah foda-se também.


[http://lhsusse.blogspot.com/2005_09_01_archive.html]

domingo, 25 de março de 2007

A autotranscendência

humm, que título indecifrável (para os que não costumam ter um bom dicionário próximo), afinal o que significa esse palavrão? Não é difícil entender, aprendi com Huxley, meu mais novo escritor favorito. A coisa toda começa com uma discussão sobre a condição humana. O fato é que todos nós temos um sentimento em comum, uma vontade primordial, um desejo incontrolável: ser algo além do que somos. Ninguém se contenta com o que é, ou seja, com sua condição de "animal racional" que deve seguir um padrão já estabelecido tradicionalmente pela própria natureza: nascer (...) morrer. Sendo que o espaço entre esses dois notáveis acontecimentos é preenchido de acordo com a herança cultural de cada indivíduo. Então nessa vida tem horas que você se cansa de si mesmo, é normal, você fica meio "putz, e agora que eu já to meio que mais-ou-menos consciente do que vai ser essa minha vida, será que não tem algo mais, não?" Quando você chega nesse ponto, você sente a necessidade da autotranscendência. Mas também não precisa ser uma coisa tão filosófica, pode ser naquela festinha, você tá lá meio de bobeira e tá achando tudo chato, sem graça. Qual a solução? autotranscendência! Pega uma cerva e pronto, vai saindo dessa prisão chamada consciência. Drogas são uma opção barata, é tipo um fast-food da autotranscendência, e como todo fast-food, implica problemas com a saúde. Além disso é apenas um efeito temporário que não provoca evolução nenhuma, e a dependência é um preço muito alto a ser pago. Meu conselho é: mantenha-se longe das drogas, e se me perguntarem qual delas considero a mais perigosa, direi sem pestanejar que é o álcool.

pausa para explicação

"nossa, mas qual o problema de se tomar umas e outras socialmente?" dirá o senso comum. E eu responderei: Esse! esse mesmo é o problema! Ninguém acha que é um problema e todo mundo acha normal umas biritinhas para desinibir ou relaxar. As cervejarias bombardeiam-nos diariamente com propagandas imorais onde tomar porres é ser descolado, o "beber socialmente" (se é que isso não passa de um eufemismo para "alcóolatra de ocasião") é considerado até mesmo elegante, e os que não o fazem são discriminados abertamente. Vivemos numa verdadeira ditadura do álcool e sinto que estamos nos afundando cada dia mais nesse lamaçal, é só analisar o crecente número de jovens que iniciam-se na bebida, seja por incentivo da própria família, mídia, ou "amigos"; até mesmo as mulheres, tragadas pelo lançamento de bebidas mais agradáveis ao paladar como as do tipo "Ice" já não estão alheias ao triste fenômeno. Nenhuma pesquisa científica sobre os efeitos do álcool no cérebro é divulgada consideravelmente (ressalva seja feita a Revista VEJA, com recente publicação que abordou o assunto, porém com a limitação "conveniente" de ser apenas nos jovens), a lei de proibição da venda para menores de 18 anos não passa de uma piada de muito mau-gosto, temos até mesmo um presidente que ao invés de dar o exemplo, é reconhecido internacionalmente pelo gosto pela bebida. Mesmo sem ter acesso a publicações científicas, podemos ter uma noção dos danosos efeitos que produzem uma droga que, em determinadas quantidades, chega a produzir até o estado de coma no usuário. E quantas desgraças não tiveram o consumo de álcool como estopim? Somente analisando os números relacionados aos acidentes automobilísticos já ficaríamos espantados, o que dirá os inúmeros crimes cometidos por sujeitos sob efeito desse entorpecente, devido não só ao seu fácil acesso, mas também a agressividade que muitas vezes acomete quem o consome, que digam as tantas esposas espancadas pelos maridos bêbados se estou mentindo.

Voltando ao assunto do título, as drogas são consideradas uma autotranscendência descendente, em outras palavras, que te levam para baixo, uma involução. Há também a autotranscendência horizontal, que por assim dizer, não te tira do lugar de fato, é apenas uma distração, algo de que necessitamos de fato e que não nos prejudica. Nessa categoria se encaixam o hobbies diversos, atividades como trabalho e lazer, etc. Por final e mais importante figura a autotranscendência ascendente, a que verdadeiramente produz no indivíduo uma elevação do ser, uma paz interior que não é apenas um chavão de livros de auto-ajuda, uma satisfação plena no viver que nos faz compreender em sua totalidade o próximo, e assim amá-lo. Para ser mais claro: Felicidade, plenitude, sabedoria. E como atingir esse estado?? perguntará avidamente o leitor que resistiu até esse ponto da leitura com interesse genuíno. Ahhh, aí é que está o problema. O como chegar não é conhecido, alguns dos que chegaram lá são: Jesus, Buda, Krishna... E o final do caminho só pode ser um: Deus.

domingo, 18 de março de 2007

O empecilho chamado preconceito

Um dos grandes maus responsáveis pelo atraso do gênero humano é o preconceito, principalmente pela sua característica mais funesta: é difícil de se admitir preconceituoso. Então ele permanece invisível para quem o pratica, e não pode ser combatido, como uma doença incurável por não se ter conhecimento dela.

Refutar passagens da Bíblia é um exercício intelectual reconfortante. Apontar erros num livro que é adorado por inúmeros e fervorosos fiéis é saboroso para a auto-estima enquanto o questionamento coloca o questionador acima da média intelectualmente pelo fato de conseguir perceber o que tantos outros não conseguem; e ao mesmo tempo cria-se a ilusão convenientemente justificante de estar fazendo um bem para a humanidade, ao incitar um abrir de olhos, um profeta ao avesso almejando semear não uma crença, mas sua vazia antítese.

Os refutadores em sua esmagadora maioria são os chamados “simples”, por não disporem de maior material de pesquisa prendem-se ao caráter denotativo das passagens, o chamado "pé-da-letra", quase sempre o fazem por meio de superficiais interpretações contemporâneas que de forma alguma levam em conta a seleção limitadora do Vaticano, as transgressões sofridas pelos textos e o contexto psicossocial em que se situavam os autores de um livro que atravessou séculos sendo idolatrado por gerações, incluso grandes intelectuais.

Então temos os que refutam a Bíblia como um todo, não pelas passagens individuais que ela contém, mas sim pelo conjunto, numa afirmação pedante de que ela é em si um livro maléfico para o crente, como se a opinião pessoal sobre o caráter da influência que ela causa fosse suficiente para convencer alguém a abandonar sua Fé.

Por último, restam os refutadores lúdicos, que a despeito de toda a importância histórico-social reconhecida da Bíblia e de todo o respeito que ela inspira em multidões chegando muitas vezes ao ponto da veneração, rechaçam veementemente tanto das duas formas acima citadas como de qualquer outra que possa o denegridor encontrar para atingir seu propósito iconoclasta, numa atitude egoísta ao extremo da compreensão humana, um desrespeito absurdo pelo próximo. Marylin Manson, músico que costuma rasgar exemplares bíblicos em seus controversos shows é um deles.

Todos os exemplos que citei acima são frutos de uma forma velada de preconceito, ocorre quando as leituras da Bíblia não são feitas motivadas por uma perseguição filosófica ou sequer tentando compreender o fascínio que ela exerce nos fiéis, mas sim buscando avidamente qualquer incongruência histórica, qualquer passagem sombrias de entendimento ou trechos com incoerências textuais básicas. Nos versículos onde a personalidade de Deus é interpretada, os pseudo-leitores exaltam o caráter guerreiro do Deus do primeiro testamento, muitas vezes dando vazão a um precipitado ateísmo, enquanto passam batido pelas palavras de Jesus sobre o amor universal, aliás muitas vezes miram no máximo da ignorância interpretativa buscando comprovar que Jesus sequer existiu ou que era apenas um revolucionário semita de pouca expressão.

Buscar o compreender e aceitar o próximo, respeitando a Fé de cada um.
O preconceito gera ódio.

sábado, 17 de março de 2007

Croniquetas no coletivo - "tchau, invasora"

Tudo começou quando eu olhei para o chão. Não sei por que tinha que olhar para o chão, talvez porque não tem muita coisa pra ver dentro de um ligeirinho lotado quando você está esmagado de costas contra a porta, mas mesmo assim não foi apenas para o chão que eu olhei, minha visão foi mais abrangente e percebeu uma sacola amarela na mão da cidadã ao meu lado. Até aí tudo bem, uma sacola amarela cheia de livros. Porém, e sempre tem que ter um porém, eu tenho um péssimo hábito que vou revelar aqui e agora antes de continuar essa narrativa. Já está quase virando um TOC, é realmente constrangedor, sou obsessivo mesmo e daí? cada um com as suas manias, ora essa! e não venha você leitor me julgar por isso, aposto que também tem seus pecadilhos escondido, não tente disfarçar, nem venha que eu sei que... ops!, voltando ao assunto, minha mania é simples: curiosidade mórbida pela leitura alheia, isso mesmo, parece bobagem? Você leitor já quase parou a leitura me julgando (como julga você, hem!) melodramático? calma, eu explico. É que essa inocente mania já me rendeu várias inconveniências nessas idas e vindas de ônibus pela metrópole curitiboca, pois veja você que um dia estava eu no biarticulado distraído olhando a bela paisagem dos muros pichados quando divisei no outro vagão uma moça com um livro na mão, lendo absorta. Não resisti e fui andando como quem não quer nada até chegar próximo pra ver o que ela tava lendo de tão interessante. estava nessa de ler por cima do ombro até que algo me denunciou e fui metralhado por um olhar tão desconcertante que a única reação possível foi um amarelo sorrisinho e desculpas murmuradas. Como se já não estivesse acostumado com esses cidadãos-sorrisos! Depois desse episódio passei a controlar mais rigidamente esse ímpeto, me limito a saber do título do livro alheio e só. Nem uma frasesinha me permito a mais. Então, voltando ao assunto do ligeirinho de hoje, eu vi a cintilante sacola amarela abarrotada de livros, e o único que dava pra ler mais-ou-menos o título era um exemplar de "Mulheres inteligentes (...) solteiras", enquanto mentalmente tentava achar o que completaria o "(...)" com algo como"permanecem", a proprietária do acervo me abordou subitamente:

- Não dá pra acreditar em tudo o que a gente lê, não é mesmo? (sorriso falsete)
- De maneira alguma. (pensei em acrescentar um "principalmente o que a gente vê na TV, mas desisti) e complementei:
- Observadora você, hem.
Então ela levantou a sacola amarela e me mostrou outro livro cujo o título era "Por que os homens não se abrem?" e completou:
- Só você pode me dizer.
- ... (sorriso não-forçado de estranhamento)
Ela insistia:
- Vergonha? Machismo?
Arrisquei, só pra zuar, mas já estava com vergonha dos outros inúmeros passageiros ao redor que disfarçavam astutamente que não, mas estavam atentos no diálogo. (procedimento praxe dentro do ônibus)
- Sei lá, Medo!? Sugeri. -Você por acaso é psicóloga ou algo do gênero? (sorriso aberto)
- Sou muito curiosa, fiquei curiosa quanto a você. Não ri de mim. Ela disse meio que de brincadeira, mas com fundos de protesto real.
- Não, não é de você não, é da nossa "conversa". (as aspas ficaram por conta da minha imaginação)
- Não to te cantando.
- !? (sorriso que não consegui conter) (me virei de frente para a porta)
ela interpretando errôneamente (será?) minha atitude:
- Se desse pra pular do ônibus, hem (sorriso debochado dela) desculpe, você se sentiu invadido.
Eu, pela primeira vez olhando firme nos olhos dela:
- (irônico) tá perdoada. É que desço na próxima.

O ônibus parou e antes de descer, telvez por remorso pela minha ironia desnecessária, talvez por tentar parecer mais simpático, pousei minha mão em seu ombro como cumprimento, ao qual ela respondeu do mesmo modo.

-thau, invasora.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Autocrítica - "Gandhi"

Eu até tinha começado mais ou menos, até o 4º parágrafo quando mandei essa: "mais interessante ainda era a opinião de Gandhi sobre religião e fé. apesar de ser totalmente equivocada."¹ Ó, que vergonha. Como pude chamar Gandhi de equivocado? e não adiantou o alerta conveniente de Louys, supremo em sua observação; permaneci cego, pedante. Mas esse post é para corrigir, para esmiuçar erros, não apenas para lamentar.

É óbvio que Gandhi não só teve razão em suas duas frases ( "Uma vida sem religião é como um barco sem leme" e "A fé - um sexto sentido - transcende o intelecto sem contradizê-lo"), como também as duas são ótimos exemplos de sua miríade de acertados pensamentos sobre fé e religião. Vamos às correções:

Quanto à primeira frase, minha pseudocrítica utilizava do fraco argumento de que basta o caráter do indivíduo ser idôneo que o seu barco já terá leme suficiente. Errado. O caráter pode até ser suficiente para manter o sujeito na linha, mas sem uma crença, sem um alvo superior a perseguir, realmente não nos resta muito. Basta observar a pobre filosofia atéia, que preceitua o estar aqui por acaso e a morte como máxima interrupção da existência. Qual o objetivo de vida do ateu? Talvez "aproveitar a vida" seria a resposta mais comum a essa questão, mas de que maneira? Se não existe mais esperança alguma no pós-mortum, a vida não passa de um flash sem um sentido magnânimo, que possa alçar o fenômeno de existir a um significado além, restando apenas as terrenas possibilidades que o nascer, crescer, morrer oferece. A vida vira um jogo de existir, uma banal forma de ser apenas por ser, enfim, um barco a deriva.

Porém minha maior vergonha diz respeito à segunda frase, que sequer tive capacidade para compreender na época, que dirá criticar. Meu primeiro grande erro, foi limitar o conceito de fé unicamente a um episódio do Gênesis bíblico, que tomei puerilmente como exemplo para tentar demonstrar a incoerência de se ter fé, errei por desconhecer o verdadeiro significado de "fé" na frase, que não era a fé no sentido de acreditar numa série de asserções teológicas e históricas, não no sentido de uma exaltada convicção de ser salvo pelo mérito de outro, mas sim a fé como confiança na ordem das coisas². Na ocasião, defini a fé em Adão e Eva da seguinte maneira: "...fantasioso devaneio de algum charlatão nos séculos já devorados pelo tempo." , o discurso pode impressionar aos incautos, mas aquele com mínimo discernimento percebeu a falta de conteúdo, realmente essa talvez tenha sido a frase mais oca que eu já tenha tido o desprazer de redigir. Afinal de contas, a fé é bobagem? Só devemos acreditar no que está provado por "A + B"? Atitude insana. Mesmo porque isso já seria ter fé, e muita! a enganadora fé de que a ciência tem todas as respostas que necessitamos, e de que as respostas que ainda não foram encontradas por ela permanecerão indecifráveis até que algum especialista trajado com um sujo jaleco, trancafiado num laboratório possa desanuviar nosso cérebro demonstrando com equações, silogismos e fórmulas o porquê da criação ou para onde leva a luz no fim do túnel. Sim, a fé é um poder, talvez o maior que tenhamos, é nosso trunfo, misterioso coelho que tiramos da cartola do incogniscível para nos impedir de enlouquecer nesse mar de perguntas. Com a fé, nós damos as respostas que queremos, e ninguém pode dizer que está errado: enquanto tivermos razões sustentáveis para a crença, ela permanecerá real, e assim são produzidos tanto o amor universal de Jesus quanto o harém de virgens que esperam ansiosas no paraíso os kamikases islâmicos. Mesmo em tempos capitalistas, esqueça o dinheiro: o que move o mundo de verdade é, sempre foi e sempre será a Fé.

¹ http://lhsusse.blogspot.com/2006/11/gandhi.html

² definição emprestada de Aldous Huxley em "Os demônios de Loudon"

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

[escrito num péssimo dia]

Hoje eu fui assaltado. Na intimidade da minha casa entraram pessoas que já não podem ser chamadas pessoas, desvirtuadas de todo e qualquer resquício de humanidade. Invadiram pela força de armas de fogo, a mais estúpida das invenções já criadas, e muito mais que objetos, levaram minha crença no ser humano. As minhas utópicas justificativas para a criminalidade, nas quais o iníquo capitalismo era o grande bode expiatório caíram por terra ao ver a mira de um revólver na cabeça de meus familiares. Não, não se trata de erros do sistema, a responsabilidade do individuo que se permite fazer tamanha covardia jamais pode ser exaurida, a detenção de tal classe de deturpados sociais deve ser imposta, a existência da conturbada organização policial encontra razão de ser, mesmo com suas tantas transgressões ao que considero essencial: liberdade e justiça.

Tive vontades de matar, como quem conserta um aparelho defeituoso. Tive vontades de morrer, deixando para trás a mesquinha existência que nos torna cúmplices de todos. O vazio dos objetos no lugar que outrora ocupavam refletia o vazio da minha alma, furtada de sua dignidade. A desordem do que não puderam ou não quiseram levar simbolizando minha esparramada impotência frente ao inesperado, revolta silenciada pelo medo do fim súbito e gratuito.

Mero fantoche nas imprudentes mãos do acaso. Não sou mais que isso, cego atravessando vias rápidas, criança que brinca no parapeito da janela. Insistir na remendada venda que cobre meus olhos, colorida com a ilusão da segurança fardada é tudo o que me resta. Vejo-me atleta cansado em corrida de obstáculos que teimam em crescer com minha aproximação, desejosos da queda fatal.

Diminuído, apalermado, aguardo a infalível resignação, passaporte barato para meu retorno à mascarada rotina que tal qual folhas outonais recobre pouco a pouco o solo da minha indignação.

Droga Pesada

[O texto abaixo é de autoria do Dr. Drauzio Varella, adicionei uma ou outra coisinha, vale a pena ler.]

Fui dependente de nicotina durante 20 anos. Comecei ainda adolescente, porque não sabia o que fazer com as mãos quando chegava às festas. Era início dos anos 60, e o cigarro estava em toda parte: televisão, cinema, outdoors e com os amigos. As meninas começavam a fumar em público, de minissaia, com as bocas pintadas assoprando a fumaça para o alto. O jovem que não fumasse estava por fora.

Um dia, na porta do colégio, um amigo me ensinou a tragar. Lembro que fiquei meio tonto, mas saí de lá e comprei um maço na padaria. Caí nas mãos do fornecedor por duas décadas; 20 cigarros por dia, às vezes mais.

Fiz o curso de medicina fumando. Naquela época, começavam a aparecer os primeiros estudos sobre os efeitos do cigarro no organismo, mas a forte indústria americana tinha equipes de médicos encarregados de contestar sistematicamente qualquer pesquisa que ousasse demonstrar a ação prejudicial do fumo. Esses cientistas de aluguel negavam até mesmo que a nicotina provocasse dependência química, desqualificando o sofrimento da legião de fumantes que tentam largar e não conseguem.

Nos anos 70, fui trabalhar no Hospital do Câncer de São Paulo. Nesse tempo, a literatura cientifica havia deixado clara a relação entre o fumo e diversos tipos de câncer: de pulmão, esôfago, rim, bexiga e os tumores de cabeça e pescoço. Já se sabia até que, de cada três casos de câncer, pelo menos um era provocado pelo cigarro. Apesar do conhecimento teórico e da convivência diária com os doentes, continuei fumando.

Na irresponsabilidade que a dependência química traz, fumei na frente dos doentes a quem recomendava abandonar o cigarro. Fumei em ambientes fechados diante de pessoas de idade, mulheres grávidas e crianças pequenas. Como professor de cursinho durante quase 20 anos, fumei nas salas de aula, induzindo muitos jovens a adquirir o vício. Quando me perguntavam: “Mas você é cancerologista e fuma?”, eu ficava sem graça e dizia que ia parar. Só que esse dia nunca chegava. A droga quebra o caráter do dependente.

A nicotina é um alcalóide. Fumada, é absorvida rapidamente nos pulmões, vai para o coração e através do sangue arterial se espalha pelo corpo todo e atinge o cérebro. No sistema nervoso central, age em receptores ligados às sensações de prazer. Esses, uma vez estimulados, comunicam-se com os circuitos de neurônios responsáveis pelo comportamento associado à busca do prazer. De todas as drogas conhecidas, é a que mais dependência química provoca. Vicia mais do que o álcool, maconha, cocaína, morfina e crack. E vicia depressa: de cada dez adolescentes que experimentam o cigarro quatro vezes, seis se tornam dependentes para o resto da vida.

A droga provoca crise de abstinência insuportável. Sem fumar, o dependente entre num quadro de ansiedade crescente, que só passa com uma tragada. Enquanto as demais drogas dão trégua de dias, ou pelo menos muitas horas, ao usuário, as crises de abstinência da nicotina se sucedem em intervalos de minutos. Para evitá-las, o fumante precisa ter o maço ao alcance da mão; sem ele, parece que está faltando uma parte do corpo. Como o álcool dissolve a nicotina e favorece sua excreção por aumentar a diurese, quando o fumante bebe, as crises de abstinência se repetem em intervalos tão curtos que ele mal acaba de fumar um, já acende outro.

Em 30 anos de profissão, assisti às mais humilhantes demonstrações do domínio que a nicotina exerce sobre o usuário. O doente tem um infarto do miocárdio, passa três dias na UTI entre a vida e a morte e não pára de fumar, mesmo que as pessoas mais queridas implorem. Sofre um derrame cerebral, sai pela rua de bengala arrastando a perna paralisada, mas com o cigarro na boca. Na vizinhança do Hospital do Câncer, cansei de ver doentes que perderam a laringe por câncer levantarem a toalhinha que cobre o orifício respiratório aberto no pescoço, aspirarem e soltarem a fumaça por ali.

Existe uma doença, exclusiva de fumantes, chamada tromboangeíte obliterante, que obstrui as artérias das extremidades e provoca necrose dos tecidos. O doente perde os dedos do pé, a perna, uma coxa, depois a outra, e fica ali na cama, aquele toco de gente, pedindo um cigarrinho pelo amor de Deus.

Mais de 95% dos usuários de nicotina começam a fumar antes dos 25 anos, a faixa etária mais vulnerável às adições. A imensa maioria comprará um maço por dia pelo resto de suas vidas, compulsivamente. Atrás desse lucro cativo, os fabricantes de cigarro investem fortunas na promoção do fumo para os jovens: personagens hollywoodianos, atitude rebelde do rock, marketing pesado onde ainda não foi proibido ou onde ainda pode ser disfarçado.

O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Os impostos pagos pela indústria do tabaco não são suficientes para sequer cobrir os gastos hospitalares públicos. Mesmo assim, a droga permanece lícita, contrariando o bom-senso e perpetuando o imperialismo cultural norte-americano, onde residem os maiores interessados no vício da nicotina, seja no Brasil ou em qualquer outro país.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Domingo

- Pausa, me deu sede. Abro a geladeira, surge a dúvida "tomo no gargalo ou no copo?" decido pela coletividade, apanho um copo do escorredor (minhas mãos ainda fediam detergente) e encho de água gelada. Ainda no terceiro gole, a frase do apresentador me chama a atenção "Agora, no Se vira nos 30, dança no (sic)ventre!" decidi que valia a pena uma pequena caminhada até a sala para contemplar na tela um talento de alguma bela odalisca que já imaginava em trajes verdes lantejoulados. Qual foi a minha surpresa quando ao focar os olhos (depois de admirar as dançarinas no palco) no centro do aparelho, a imagem pavorosa de um andrógino nascido homem pelo que pude perceber, travestido de véus e saias preparando-se para dançar! não podendo conter mais a indignação, pressionei o "power" com firmeza e saí resmungando obcenidades para a globo. Subi as escadas, em direção ao PC, me deparo com meu irmão no quarto que atenta ao televisor onde o mesmo obeso apresentador narra os últimos 5 segundos do absurdo. Quase desisti. mas não! imediatamente repreendi o parente próximo, argumentando que mudasse de canal, me dá o controle "-0, 04" ´pronto! o dissecamento da história do avô que salvou o neto do ataque de uma sucuri é muito mais interessante, e ainda mostra cenas de ataques reais, o sensacionalismo transborda. Fico incrédulo diante da falta de pudor do programa dominical vespertino do SBT, filmar o repórter apavorado sendo atacado por uma cobra durante reportagem na Amazõnia, vá lá. mas botar uma cobra no meio do palco no domingo seguinte e flertar com a hipótese do citado repóter entrar no cercadinho e ter uma revanche, é demais! O afeminado apresentador suplicava que não, mas a interpretação não convencia. Por fim, não sei se houve revanche ou não. Só sei que TV no domingo a tarde nunca mais!

PS: eu avisei meu irmão que ele seria citado.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Tu te tornas responsável pelo que cativas

Almas são complexas, mas permitem que se faça uma leitura superficial na qual ficam claros, para aqueles que se consideram "bons observadores", seus ensejos primitivos. Quando passamos a conhecer alguém, existe todo um universo de probabilidades em que sua decisão será definitiva para tecer o tipo de relação que será estabelecida com ela. E isso é muita responsabilidade. Vc decidirá: de um encontro casual pode nascer o amor que sustentará uma companhia de incontáveis anos com a sua "alma gêmea", ou apenas mais alguém para regurgitar bom dias entre amarelados sorrisos. Um debate que gera acalorados argumentos é o da existência do amor à primeira vista. Os que o defendem o click salientam a instabilidade das emoções, semelhantes a correntes marítimas ou explosões de magma. os que o negam preferem caracterizar o amor como algo cultivável, mais tangível, concreto. Acreditar ou não em amor à primeira vista diz muito sobre vc. Eu acredito.

Ninguém está sentado no banco dos réus, também não culpo as intermitências do acaso, que segundo ela, não existe mesmo.

/quando conversávamos eu me irritava com tantos elogios, me irritava porque aquilo demonstrava o quanto eu era um estranho para ela. As horas que passamos juntos eram buracos-negros luminosos nos meus dias. Dedicava horas de contemplação sobre nosso futuro, a miúde repartia com ela minhas aspirações. Porém sonhadores pagam mais caro quando confrontados com uma realidade diversa. Mais de uma vez me senti pressionado por aquela certeza clara que ela tinha do nosso maravilhoso futuro juntos. comecei a ter dúvidas, mas eram dissipadas assim que sentia o cheiro de pitangas. Não posso dizer que o final foi repentino. aos poucos fui percebendo que não fazíamos parte da mesma realidade. As diferenças foram se acentuando, enquanto a paixão era sufocada pela proibição, que por fim revelou-se sóbria. Quis evitar a tragédia, elaborei extensas formas de fazê-la entender como me sentia, eu afinal havia percebido tarde demais que não havia saída. um beco sem saída. cheguei a usar essa expressão uma vez numa de nossas intermináveis DR. eu sempre tinha muito a dizer, mas na hora meu ser se espremia de tanta vontade de ouvir. inundava a cabeça com alegóricas leituras dos olhares que ela me lançava. um beijo no rosto, "se cuida". dá pra entender?. no começo. depois começou a complicar, eu não conseguia permanecer num lugar onde minha dúvida era incompreendida, me fazia de desentendido. Me fazia não. eu era um desentendido. quando ia tentar o batismo, esbarrei na condição do hímen complacente de Maria, iningolível para mim. E assim foi caminhando a parte ruim da relação. a parte boa eu poupo os leitores. essa fica na memória de apenas uma pessoa além de mim e seria humanamente impossível resumí-la num post como esse. Ah, quantas inesquecíveis horas precisei esquecer... quando li a resposta ao meu email, me senti mal. rancor. Busquei meus erros pela décima vez, encontrei outros. faltou-me cautela, a impulsividade é irresponsável demais para segurar a barra. fiquei com aquele gosto amargo na garganta típico de quando se pensa que talvez para ela teria sido melhor nunca ter me conhecido. quem sabe uma dica no lugar do convite, tipo "esquece zorra total, vai passar um filmao no SBT" já teria sido suficiente para mudar toda a historia. ficar pensando nisso agora é bobagem, quanta vida teria sido jogada fora! ... fica apenas ecoando o engenheiros na minha cabeça... "Se soubesse antes/o que sei agora/ erraria tudo exatamente igual"

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

quando ele acaba

De repente, você acorda de manhã e ele não está mais lá. A culpa é de quem? as pessoas estão mudando o tempo todo, seguindo o ritmo ditado pelas trasnformações em seus sentimentos e formas de interpretação dos fenomenos que nao cessam de surpreender àqueles que ainda nao banalizam mentalmente a experiencia que é a vida. Nao existe fórmula para escapar à mudança. E mesmo que existisse seria prejudicial permanecer estável em vista da constante metamorfose que sofre a natureza tanto na esfera do selvagem quando na selvageria da sociedade humana.
Quando paramos e conseguimos nos ver através dos olhos de alguém em que tenhamos nos transformado (quem somos nós?) idealizamos os bons momentos, esquecemos as agruras que a vida nos fez passar e tentamos tirar lições do passado. Mas e quando o passado está ainda fresco, o que fazer? curtir o momento seria muito masoquismo sentimental, porém é o melhor conselho que posso dar, já que sou reincidente dessas situações. Escreva poemas e nunca entregue, chore muito e escondido, gaste horas de contemplação abrasiva dos momentos inesquecíveis que cedo ou tarde serão esquecidos. Não digo o esquecimento destruidor de memória, mas o esquecimento saudável, que deixa a memória no campo da lembrança distante, transmutado em experiência de vida. E que experiência de vida é o amor! Ah, que pena tenho daqueles que nunca usaram a frase mais bela de todas para expressar seu carinho por outrem, ou dos que nunca a escutaram sussurrada ou entre gemidos mais exaltados... Vem o torpor de saber que é amado ou melhor, de estar amando. Porque amar é muito melhor do que ser amado. qualquer um pode ser amado, mas nem todos conseguem essa proeza que é amar. Exige dedicação integral, remanejamento de horários e planos, tudo em busca do encaixe ideal que contemple o máximo de tempo possível passado com o ser amado. E nessas perdem-se responsabilidades inerentes ao corrido dia a dia, mas ganham-se momentos que deixam a vida açucarada. e se tudo o que fica da vida são lembranças, que sejam belas.

E o que fazer com toda a frustração?

isso é problema seu. Mas vc pode escolher entre duas opções: ficar com ela toda ou dividí-la com a parte em litígio. o egoísmo cego geralmente nasce junto com a raiva, entao o caminho mais comum é o de dividir a dor. E existem milhares de permeios. Um deles é a chamada tática do "ignorar", a mais simples de todas, consiste em deletar do orkut, msn, esquecer telefone, etc, etc. Com ela espera-se produzir dores de cotovelo no ex-parceiro dando-se o parecer de que "eu já nao estava nem aí mesmo". E esperar ansioso um telefonema, e-mail, scrap, sinal de fumaça que seja. já fiz isso, é doloroso. Mas pior mesmo é elaborar aquele nick maquiavélico, com óbvias intenções cardiolacerativas (hahaha) e estampar no msn, só esperando que produza frutos. já fiz também, é estúpido.

E o desejo de vingança?

esse esqueça. Passa rápido, se vc tiver o mínimo de bom-senso, não chega a uma semana nos casos mais pungentes. E quanto mais aflitiva for sua situação tanto mais importancia para vc teve a relação, pense nisso.

E por fim
Jamais perca o foco de que um dia aquela pessoa vai ser passado. E principalmente, jamais perca a esperança de encontrar um amor ainda maior e melhor. Se for assim, a relação perde todo o caráter benéfico para tornar-se uma chaga emocional que vc carregará por sua existência. E mesmo quando acaba por motivos estrapolantes, como uma traição, vire a mesa e encare de uma forma diferente as coisas. Uma pessoa que trai num relacionamento sério é sociopata, incapaz de despertar sentimentos de fidelidade no próprio íntimo, impossibilitado de participar de um elo mais forte que a simples atração física com outra pessoa. Já quem foi traído... bem, corno ou não, se despojarmos a infrutífera gozação e irmos até o âmago do acontecimento encontraremos um alguém que confiou demais. Alguém que viu todo o crédito que depositava ser infundado, alguém assaltado da verdade, feito de trouxa. Porém esse alguém que se descobriu nessa experiência teve a oportunidade do perdão. O aprendizado pelo jeito mais difícil, o repisar a dor até descobrir o como e o porquê... já o traidor tem o arrependimento como companhia, e esse sim é chato, gruda e demora a sair, ainda mais se sobram migalhas de amor. Sempre vejo o ser traído como muito maior do que o traidor, os papéis da peça do espertalhão e do bobo invertidos.