quinta-feira, 8 de março de 2007

Autocrítica - "Gandhi"

Eu até tinha começado mais ou menos, até o 4º parágrafo quando mandei essa: "mais interessante ainda era a opinião de Gandhi sobre religião e fé. apesar de ser totalmente equivocada."¹ Ó, que vergonha. Como pude chamar Gandhi de equivocado? e não adiantou o alerta conveniente de Louys, supremo em sua observação; permaneci cego, pedante. Mas esse post é para corrigir, para esmiuçar erros, não apenas para lamentar.

É óbvio que Gandhi não só teve razão em suas duas frases ( "Uma vida sem religião é como um barco sem leme" e "A fé - um sexto sentido - transcende o intelecto sem contradizê-lo"), como também as duas são ótimos exemplos de sua miríade de acertados pensamentos sobre fé e religião. Vamos às correções:

Quanto à primeira frase, minha pseudocrítica utilizava do fraco argumento de que basta o caráter do indivíduo ser idôneo que o seu barco já terá leme suficiente. Errado. O caráter pode até ser suficiente para manter o sujeito na linha, mas sem uma crença, sem um alvo superior a perseguir, realmente não nos resta muito. Basta observar a pobre filosofia atéia, que preceitua o estar aqui por acaso e a morte como máxima interrupção da existência. Qual o objetivo de vida do ateu? Talvez "aproveitar a vida" seria a resposta mais comum a essa questão, mas de que maneira? Se não existe mais esperança alguma no pós-mortum, a vida não passa de um flash sem um sentido magnânimo, que possa alçar o fenômeno de existir a um significado além, restando apenas as terrenas possibilidades que o nascer, crescer, morrer oferece. A vida vira um jogo de existir, uma banal forma de ser apenas por ser, enfim, um barco a deriva.

Porém minha maior vergonha diz respeito à segunda frase, que sequer tive capacidade para compreender na época, que dirá criticar. Meu primeiro grande erro, foi limitar o conceito de fé unicamente a um episódio do Gênesis bíblico, que tomei puerilmente como exemplo para tentar demonstrar a incoerência de se ter fé, errei por desconhecer o verdadeiro significado de "fé" na frase, que não era a fé no sentido de acreditar numa série de asserções teológicas e históricas, não no sentido de uma exaltada convicção de ser salvo pelo mérito de outro, mas sim a fé como confiança na ordem das coisas². Na ocasião, defini a fé em Adão e Eva da seguinte maneira: "...fantasioso devaneio de algum charlatão nos séculos já devorados pelo tempo." , o discurso pode impressionar aos incautos, mas aquele com mínimo discernimento percebeu a falta de conteúdo, realmente essa talvez tenha sido a frase mais oca que eu já tenha tido o desprazer de redigir. Afinal de contas, a fé é bobagem? Só devemos acreditar no que está provado por "A + B"? Atitude insana. Mesmo porque isso já seria ter fé, e muita! a enganadora fé de que a ciência tem todas as respostas que necessitamos, e de que as respostas que ainda não foram encontradas por ela permanecerão indecifráveis até que algum especialista trajado com um sujo jaleco, trancafiado num laboratório possa desanuviar nosso cérebro demonstrando com equações, silogismos e fórmulas o porquê da criação ou para onde leva a luz no fim do túnel. Sim, a fé é um poder, talvez o maior que tenhamos, é nosso trunfo, misterioso coelho que tiramos da cartola do incogniscível para nos impedir de enlouquecer nesse mar de perguntas. Com a fé, nós damos as respostas que queremos, e ninguém pode dizer que está errado: enquanto tivermos razões sustentáveis para a crença, ela permanecerá real, e assim são produzidos tanto o amor universal de Jesus quanto o harém de virgens que esperam ansiosas no paraíso os kamikases islâmicos. Mesmo em tempos capitalistas, esqueça o dinheiro: o que move o mundo de verdade é, sempre foi e sempre será a Fé.

¹ http://lhsusse.blogspot.com/2006/11/gandhi.html

² definição emprestada de Aldous Huxley em "Os demônios de Loudon"

Nenhum comentário:

Postar um comentário