sábado, 21 de julho de 2007

Sobre um desconhecido

ele continuava esperando, sentado no banco da praça sem nenhuma preocupação com conforto, pernas cruzadas esticadas pela calçada. observava o tráfego e pensava em si mesmo, esse eterno desconhecido. Por que esperava ali se tinha absoluta certeza de que ela não apareceria? Por que insistia em permanecer ali, sendo que nem ele mesmo queria que ela aparecesse? Sim, um traço da sua personalidade se revelava, seu masoquismo sentimental era evidente. Caso ela viesse ao encontro, ele a teria diminuta em seu conceito, esnobaria-a inconscientemente, como um troféu que no dia seguinte ao da conquista é apenas de metal.

Então descortinou-se a sua frente todo seu futuro amoroso. Não importaria quantas mulheres cruzassem seu caminho, todas elas estariam fadadas a seguir o mesmo modus operandi: ou perdiam o interesse ou seriam desinteressantes. A hipótese de haver uma mulher que o amasse e que ao mesmo tempo fosse amada por ele era impossível pois uma condição excluía a outra. Seu interesse era diretamente proporcional ao desinteresse da pretendente.

Nenhum desespero. Nem sequer um resíduo de desapontamento ou medo. Encarando a situação, uma calmaria interna se estabeleceu e ele compreendeu que não poderia ser diferente, mesmo porque ele não queria que fosse. Não queria mudar, não havia motivo para isso em sua cabeça; estava tudo em concordância com o que deveria ser.

Restavam para ele duas opções no campo afetivo. Ou se apartava de qualquer sentimento significante, acorrentado a uma indiferença amarga para que assim não sofresse e não fizesse outros sofrerem por amor; ou apostava num amor platônico, e ao entregar-se ao idealismo dos poetas românticos estaria livre do maior sofrimento que o amor pode infligir: o de nunca ter amado.

Sem êxito nem hesitação, estava decidido.

"Amarei às escuras. Afugentarei a solidão com sombras nascidas do segredo. Inventarei histórias, devaneios que me distrairão do mundo real. Será como um eterno viver no momento mágico antes da conquista, quando ainda as dúvidas sobre o futuro são saboreadas vagarosamente pelo amante. Evitarei a certeza, fugirei da exatidão, navegando meu barco de fé, a favor do vento e indo em direção ao infinito."

domingo, 1 de julho de 2007

Aborrecimentos

O que você queria ler aqui? Alguma curiosidade que possa enriquecer um diálogo qualquer durante o dia? Alguma idéia que possa reciclar e adicionar as suas próprias? Talvez seja somente um empenho em conhecer melhor o Luiz Henrique.

Caso seja isso, satisfarei seu desejo. Sou anormal. Esquisito, até mesmo chato às vezes. E não falo só num rasgo de falsa modéstia de quem espera um comentário que diga "não, não, você é gente boa". Apenas reproduzo as palavras do meu próprio pai, sangue do meu sangue, que está desconcertado com minhas atitudes ultimamente.

Hã? Que atitudes? ahh sim, nada demais. Uma delas é que virei freqüentador assíduo de uma Igreja Evangélica, apesar de não ser apenas cristão. Isso o deixou confuso, afinal eu era ateu até bem pouco tempo atrás, e já havíamos tido conversas acaloradas sobre a existência ou não de Deus. Eu estava errado. Apenas reconheci o meu erro e mudei meu rumo, nada fora do comum (ou talvez infelizmente seja).

Também passei a ouvir música clássica, gospel, Chico Buarque e drum'n'bass. Esses estilos são apavorantes para quem está acostumado com Chitãozinho e Xororó e o máximo que engole é um JOta Quest, eu entendo. Fica chato.

Por último, mas não menos importante, sou um novo vegetariano. Não apenas isso, sou vegetariano numa família tradicionalmente do Sul, com seus churrascos indefectíveis nos finais de semana. Longe de mim qualquer momento "dono da razão" em que discursaria contra o consumo de carne, eu sei o quanto esse papo é chato. Mas será que somente pelo "ser vegetariano" já pode ser considerado chateante?

Talvez não. Mas se você é um crente ouvinte de música clássica vegetariano telespectador de TV Senado, é provável que sim. Tenciono mudar o título do blog para "Boringlessness" ou aportuguesado "bóringlésnés". Se bem que assim vai ficar chato.



Constatação



Ninguém lê postagens longas. É tempo demais investido numa leitura que potencialmente será infrutífera. Ao invés de reclamar dos leitores preguiçosos, resolvi me adaptar e começar a postar textículos. Também percebi que uma imagem, qualquer que seja, é importante para chamar a atenção, então procurarei sempre que possível adicionar uma (mesmo que não tenha muito a ver com o tema do texto).