domingo, 18 de outubro de 2009

A traição



Meninos Brincando, Portinari, 1955

Ele já sabia o que iria acontecer. Quando abrisse aquela porta, a imagem que sua retina iria refletir já estava em sua mente, seria apenas um dejà ju. Mesmo assim, tremeu ao tocar o frio metálico da maçaneta.

O giro da engrenagem cortou o silêncio de sua casa, e hesitou por um momento antes de escancarar a porta. Quando o fez, porém, arrependeu-se de não ter tido a coragem de virar às costas e ir embora sem nunca mais falar com ela.

Trocaria o número do celular, não, jogaria o celular no rio. Era homem suficiente para ter uma atitude irracional de vez em quando, apenas quando a situação exigisse. Ela o procuraria nos hospitais, ligaria para a polícia, iria até mesmo nos necrotérios da cidade. A incerteza seria seu castigo. O sofrimento dela seria inúmeras vezes maior que o dele, que conhecia o início meio e fim da história, por mais dolorosa que ela fosse, estava pronta para ser resolvida em sua mente.

Sua auto-estima já estava recuperada 3 meses depois do incidente. Aguardava, com uma certa ansiedade, sua próxima viagem. Chegaria em casa novamente de surpresa e sentiria o mesmo frio metálico nas mãos. Mas dessa vez não se arrependeria de mais nada.

-Benzinho, me traz um copo d'água?

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