quarta-feira, 28 de março de 2007

Autocrítica - Internet

Tudo bem que foi em 2005, mas sempre vale a pena corrigir as bobagens que posto aqui. Essa sobre a internet foi uma redaçãozinha de apenas um parágrafo, nada relevante, com opiniões iconoclastas contra a rede, acusando-a de que a aproximação que ela cria é superficial, artificial, vazia de sentido. Nessa época eu escrevia só como teste, então não me senti tão culpado por ter uma opinião fajuta dessas. O fato é que a internet é muito mais do que eu poderia imaginar nos auge dos meus 16 anos. Ela é a melhor ferramenta já criada pelo homem, um acervo de conhecimento inigualável, por ser algo vivo, dinâmico e ilimitado. Ora, se eu, um simplório estudante que possui mais pretensão do que conhecimento, já tem disponível na rede suas opiniões e idéias, o que dirá os que realmente têm assuntos mais importantes e retórica trabalhada, tá tudo aí, só depende de você ir atrás. Aqueles que limitam a internet classificando-a desmerecidamente como eu fiz naquela ocasião, são os que permanecem ignorantes do conteúdo magnífico que ela possui. E se você tiver noções básicas de inglês, as opções exponencializam-se.

Orkut - os críticos (geralmente tiozões que não entenderam direito, ou internautas que não obtiveram êxito em sua rede de contatos e/ou número de scraps) salivam ao enumerar os supostos malefícios que o site traz, alienação social, profiles enganadores que na sanha por popularidade são capazes dos subterfúgios mais inusitados como fotos sem camisa no perfil ou as famosas frases feitas à guisa de resposta para aquela perguntinha impertinente "quem sou eu?", as comunidades de "eu amo fulano de tal" ou "sou amigo/conheço cicrano" nas quais os fulanos e cicranos, debruçando-se na tentativa de amealhar mais membros para atestar uma suposta popularidade, inundam as páginas alheias com pedidos assaz insensatos de adesão, que a política da simpatia nos impede de recusar. Porém, para os que não se deixam levar pela aparente capa de superficialidade, abre-se um leque de opiniões, pensamentos, explicações, debates versados sobre os mais variados temas, que surpreendem pela profundidade, pois não só de palhaços compõe-se o orkut, mas também marcam presença estudiosos e especialistas que contam com formação elaborada. O bom e velho ócio criativo, e quando você perde o medo de opinar nalguma comunidade séria, deixa de ser tempo dispendido à toa para tornar-se não apenas um método de desenvolvimento argumentativo, mas também uma possibilidade de vislumbre da realidade de uma outra forma que talvez você julgasse impossível, uma evolução de pensamento benemérita que pode pôr fim a indagações claudicantes que nos permeiam rotineiramente.

O segredo da vida deve estar nalguma página sombria num canto recato da internet. ah foda-se também.


[http://lhsusse.blogspot.com/2005_09_01_archive.html]

domingo, 25 de março de 2007

A autotranscendência

humm, que título indecifrável (para os que não costumam ter um bom dicionário próximo), afinal o que significa esse palavrão? Não é difícil entender, aprendi com Huxley, meu mais novo escritor favorito. A coisa toda começa com uma discussão sobre a condição humana. O fato é que todos nós temos um sentimento em comum, uma vontade primordial, um desejo incontrolável: ser algo além do que somos. Ninguém se contenta com o que é, ou seja, com sua condição de "animal racional" que deve seguir um padrão já estabelecido tradicionalmente pela própria natureza: nascer (...) morrer. Sendo que o espaço entre esses dois notáveis acontecimentos é preenchido de acordo com a herança cultural de cada indivíduo. Então nessa vida tem horas que você se cansa de si mesmo, é normal, você fica meio "putz, e agora que eu já to meio que mais-ou-menos consciente do que vai ser essa minha vida, será que não tem algo mais, não?" Quando você chega nesse ponto, você sente a necessidade da autotranscendência. Mas também não precisa ser uma coisa tão filosófica, pode ser naquela festinha, você tá lá meio de bobeira e tá achando tudo chato, sem graça. Qual a solução? autotranscendência! Pega uma cerva e pronto, vai saindo dessa prisão chamada consciência. Drogas são uma opção barata, é tipo um fast-food da autotranscendência, e como todo fast-food, implica problemas com a saúde. Além disso é apenas um efeito temporário que não provoca evolução nenhuma, e a dependência é um preço muito alto a ser pago. Meu conselho é: mantenha-se longe das drogas, e se me perguntarem qual delas considero a mais perigosa, direi sem pestanejar que é o álcool.

pausa para explicação

"nossa, mas qual o problema de se tomar umas e outras socialmente?" dirá o senso comum. E eu responderei: Esse! esse mesmo é o problema! Ninguém acha que é um problema e todo mundo acha normal umas biritinhas para desinibir ou relaxar. As cervejarias bombardeiam-nos diariamente com propagandas imorais onde tomar porres é ser descolado, o "beber socialmente" (se é que isso não passa de um eufemismo para "alcóolatra de ocasião") é considerado até mesmo elegante, e os que não o fazem são discriminados abertamente. Vivemos numa verdadeira ditadura do álcool e sinto que estamos nos afundando cada dia mais nesse lamaçal, é só analisar o crecente número de jovens que iniciam-se na bebida, seja por incentivo da própria família, mídia, ou "amigos"; até mesmo as mulheres, tragadas pelo lançamento de bebidas mais agradáveis ao paladar como as do tipo "Ice" já não estão alheias ao triste fenômeno. Nenhuma pesquisa científica sobre os efeitos do álcool no cérebro é divulgada consideravelmente (ressalva seja feita a Revista VEJA, com recente publicação que abordou o assunto, porém com a limitação "conveniente" de ser apenas nos jovens), a lei de proibição da venda para menores de 18 anos não passa de uma piada de muito mau-gosto, temos até mesmo um presidente que ao invés de dar o exemplo, é reconhecido internacionalmente pelo gosto pela bebida. Mesmo sem ter acesso a publicações científicas, podemos ter uma noção dos danosos efeitos que produzem uma droga que, em determinadas quantidades, chega a produzir até o estado de coma no usuário. E quantas desgraças não tiveram o consumo de álcool como estopim? Somente analisando os números relacionados aos acidentes automobilísticos já ficaríamos espantados, o que dirá os inúmeros crimes cometidos por sujeitos sob efeito desse entorpecente, devido não só ao seu fácil acesso, mas também a agressividade que muitas vezes acomete quem o consome, que digam as tantas esposas espancadas pelos maridos bêbados se estou mentindo.

Voltando ao assunto do título, as drogas são consideradas uma autotranscendência descendente, em outras palavras, que te levam para baixo, uma involução. Há também a autotranscendência horizontal, que por assim dizer, não te tira do lugar de fato, é apenas uma distração, algo de que necessitamos de fato e que não nos prejudica. Nessa categoria se encaixam o hobbies diversos, atividades como trabalho e lazer, etc. Por final e mais importante figura a autotranscendência ascendente, a que verdadeiramente produz no indivíduo uma elevação do ser, uma paz interior que não é apenas um chavão de livros de auto-ajuda, uma satisfação plena no viver que nos faz compreender em sua totalidade o próximo, e assim amá-lo. Para ser mais claro: Felicidade, plenitude, sabedoria. E como atingir esse estado?? perguntará avidamente o leitor que resistiu até esse ponto da leitura com interesse genuíno. Ahhh, aí é que está o problema. O como chegar não é conhecido, alguns dos que chegaram lá são: Jesus, Buda, Krishna... E o final do caminho só pode ser um: Deus.

domingo, 18 de março de 2007

O empecilho chamado preconceito

Um dos grandes maus responsáveis pelo atraso do gênero humano é o preconceito, principalmente pela sua característica mais funesta: é difícil de se admitir preconceituoso. Então ele permanece invisível para quem o pratica, e não pode ser combatido, como uma doença incurável por não se ter conhecimento dela.

Refutar passagens da Bíblia é um exercício intelectual reconfortante. Apontar erros num livro que é adorado por inúmeros e fervorosos fiéis é saboroso para a auto-estima enquanto o questionamento coloca o questionador acima da média intelectualmente pelo fato de conseguir perceber o que tantos outros não conseguem; e ao mesmo tempo cria-se a ilusão convenientemente justificante de estar fazendo um bem para a humanidade, ao incitar um abrir de olhos, um profeta ao avesso almejando semear não uma crença, mas sua vazia antítese.

Os refutadores em sua esmagadora maioria são os chamados “simples”, por não disporem de maior material de pesquisa prendem-se ao caráter denotativo das passagens, o chamado "pé-da-letra", quase sempre o fazem por meio de superficiais interpretações contemporâneas que de forma alguma levam em conta a seleção limitadora do Vaticano, as transgressões sofridas pelos textos e o contexto psicossocial em que se situavam os autores de um livro que atravessou séculos sendo idolatrado por gerações, incluso grandes intelectuais.

Então temos os que refutam a Bíblia como um todo, não pelas passagens individuais que ela contém, mas sim pelo conjunto, numa afirmação pedante de que ela é em si um livro maléfico para o crente, como se a opinião pessoal sobre o caráter da influência que ela causa fosse suficiente para convencer alguém a abandonar sua Fé.

Por último, restam os refutadores lúdicos, que a despeito de toda a importância histórico-social reconhecida da Bíblia e de todo o respeito que ela inspira em multidões chegando muitas vezes ao ponto da veneração, rechaçam veementemente tanto das duas formas acima citadas como de qualquer outra que possa o denegridor encontrar para atingir seu propósito iconoclasta, numa atitude egoísta ao extremo da compreensão humana, um desrespeito absurdo pelo próximo. Marylin Manson, músico que costuma rasgar exemplares bíblicos em seus controversos shows é um deles.

Todos os exemplos que citei acima são frutos de uma forma velada de preconceito, ocorre quando as leituras da Bíblia não são feitas motivadas por uma perseguição filosófica ou sequer tentando compreender o fascínio que ela exerce nos fiéis, mas sim buscando avidamente qualquer incongruência histórica, qualquer passagem sombrias de entendimento ou trechos com incoerências textuais básicas. Nos versículos onde a personalidade de Deus é interpretada, os pseudo-leitores exaltam o caráter guerreiro do Deus do primeiro testamento, muitas vezes dando vazão a um precipitado ateísmo, enquanto passam batido pelas palavras de Jesus sobre o amor universal, aliás muitas vezes miram no máximo da ignorância interpretativa buscando comprovar que Jesus sequer existiu ou que era apenas um revolucionário semita de pouca expressão.

Buscar o compreender e aceitar o próximo, respeitando a Fé de cada um.
O preconceito gera ódio.

sábado, 17 de março de 2007

Croniquetas no coletivo - "tchau, invasora"

Tudo começou quando eu olhei para o chão. Não sei por que tinha que olhar para o chão, talvez porque não tem muita coisa pra ver dentro de um ligeirinho lotado quando você está esmagado de costas contra a porta, mas mesmo assim não foi apenas para o chão que eu olhei, minha visão foi mais abrangente e percebeu uma sacola amarela na mão da cidadã ao meu lado. Até aí tudo bem, uma sacola amarela cheia de livros. Porém, e sempre tem que ter um porém, eu tenho um péssimo hábito que vou revelar aqui e agora antes de continuar essa narrativa. Já está quase virando um TOC, é realmente constrangedor, sou obsessivo mesmo e daí? cada um com as suas manias, ora essa! e não venha você leitor me julgar por isso, aposto que também tem seus pecadilhos escondido, não tente disfarçar, nem venha que eu sei que... ops!, voltando ao assunto, minha mania é simples: curiosidade mórbida pela leitura alheia, isso mesmo, parece bobagem? Você leitor já quase parou a leitura me julgando (como julga você, hem!) melodramático? calma, eu explico. É que essa inocente mania já me rendeu várias inconveniências nessas idas e vindas de ônibus pela metrópole curitiboca, pois veja você que um dia estava eu no biarticulado distraído olhando a bela paisagem dos muros pichados quando divisei no outro vagão uma moça com um livro na mão, lendo absorta. Não resisti e fui andando como quem não quer nada até chegar próximo pra ver o que ela tava lendo de tão interessante. estava nessa de ler por cima do ombro até que algo me denunciou e fui metralhado por um olhar tão desconcertante que a única reação possível foi um amarelo sorrisinho e desculpas murmuradas. Como se já não estivesse acostumado com esses cidadãos-sorrisos! Depois desse episódio passei a controlar mais rigidamente esse ímpeto, me limito a saber do título do livro alheio e só. Nem uma frasesinha me permito a mais. Então, voltando ao assunto do ligeirinho de hoje, eu vi a cintilante sacola amarela abarrotada de livros, e o único que dava pra ler mais-ou-menos o título era um exemplar de "Mulheres inteligentes (...) solteiras", enquanto mentalmente tentava achar o que completaria o "(...)" com algo como"permanecem", a proprietária do acervo me abordou subitamente:

- Não dá pra acreditar em tudo o que a gente lê, não é mesmo? (sorriso falsete)
- De maneira alguma. (pensei em acrescentar um "principalmente o que a gente vê na TV, mas desisti) e complementei:
- Observadora você, hem.
Então ela levantou a sacola amarela e me mostrou outro livro cujo o título era "Por que os homens não se abrem?" e completou:
- Só você pode me dizer.
- ... (sorriso não-forçado de estranhamento)
Ela insistia:
- Vergonha? Machismo?
Arrisquei, só pra zuar, mas já estava com vergonha dos outros inúmeros passageiros ao redor que disfarçavam astutamente que não, mas estavam atentos no diálogo. (procedimento praxe dentro do ônibus)
- Sei lá, Medo!? Sugeri. -Você por acaso é psicóloga ou algo do gênero? (sorriso aberto)
- Sou muito curiosa, fiquei curiosa quanto a você. Não ri de mim. Ela disse meio que de brincadeira, mas com fundos de protesto real.
- Não, não é de você não, é da nossa "conversa". (as aspas ficaram por conta da minha imaginação)
- Não to te cantando.
- !? (sorriso que não consegui conter) (me virei de frente para a porta)
ela interpretando errôneamente (será?) minha atitude:
- Se desse pra pular do ônibus, hem (sorriso debochado dela) desculpe, você se sentiu invadido.
Eu, pela primeira vez olhando firme nos olhos dela:
- (irônico) tá perdoada. É que desço na próxima.

O ônibus parou e antes de descer, telvez por remorso pela minha ironia desnecessária, talvez por tentar parecer mais simpático, pousei minha mão em seu ombro como cumprimento, ao qual ela respondeu do mesmo modo.

-thau, invasora.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Autocrítica - "Gandhi"

Eu até tinha começado mais ou menos, até o 4º parágrafo quando mandei essa: "mais interessante ainda era a opinião de Gandhi sobre religião e fé. apesar de ser totalmente equivocada."¹ Ó, que vergonha. Como pude chamar Gandhi de equivocado? e não adiantou o alerta conveniente de Louys, supremo em sua observação; permaneci cego, pedante. Mas esse post é para corrigir, para esmiuçar erros, não apenas para lamentar.

É óbvio que Gandhi não só teve razão em suas duas frases ( "Uma vida sem religião é como um barco sem leme" e "A fé - um sexto sentido - transcende o intelecto sem contradizê-lo"), como também as duas são ótimos exemplos de sua miríade de acertados pensamentos sobre fé e religião. Vamos às correções:

Quanto à primeira frase, minha pseudocrítica utilizava do fraco argumento de que basta o caráter do indivíduo ser idôneo que o seu barco já terá leme suficiente. Errado. O caráter pode até ser suficiente para manter o sujeito na linha, mas sem uma crença, sem um alvo superior a perseguir, realmente não nos resta muito. Basta observar a pobre filosofia atéia, que preceitua o estar aqui por acaso e a morte como máxima interrupção da existência. Qual o objetivo de vida do ateu? Talvez "aproveitar a vida" seria a resposta mais comum a essa questão, mas de que maneira? Se não existe mais esperança alguma no pós-mortum, a vida não passa de um flash sem um sentido magnânimo, que possa alçar o fenômeno de existir a um significado além, restando apenas as terrenas possibilidades que o nascer, crescer, morrer oferece. A vida vira um jogo de existir, uma banal forma de ser apenas por ser, enfim, um barco a deriva.

Porém minha maior vergonha diz respeito à segunda frase, que sequer tive capacidade para compreender na época, que dirá criticar. Meu primeiro grande erro, foi limitar o conceito de fé unicamente a um episódio do Gênesis bíblico, que tomei puerilmente como exemplo para tentar demonstrar a incoerência de se ter fé, errei por desconhecer o verdadeiro significado de "fé" na frase, que não era a fé no sentido de acreditar numa série de asserções teológicas e históricas, não no sentido de uma exaltada convicção de ser salvo pelo mérito de outro, mas sim a fé como confiança na ordem das coisas². Na ocasião, defini a fé em Adão e Eva da seguinte maneira: "...fantasioso devaneio de algum charlatão nos séculos já devorados pelo tempo." , o discurso pode impressionar aos incautos, mas aquele com mínimo discernimento percebeu a falta de conteúdo, realmente essa talvez tenha sido a frase mais oca que eu já tenha tido o desprazer de redigir. Afinal de contas, a fé é bobagem? Só devemos acreditar no que está provado por "A + B"? Atitude insana. Mesmo porque isso já seria ter fé, e muita! a enganadora fé de que a ciência tem todas as respostas que necessitamos, e de que as respostas que ainda não foram encontradas por ela permanecerão indecifráveis até que algum especialista trajado com um sujo jaleco, trancafiado num laboratório possa desanuviar nosso cérebro demonstrando com equações, silogismos e fórmulas o porquê da criação ou para onde leva a luz no fim do túnel. Sim, a fé é um poder, talvez o maior que tenhamos, é nosso trunfo, misterioso coelho que tiramos da cartola do incogniscível para nos impedir de enlouquecer nesse mar de perguntas. Com a fé, nós damos as respostas que queremos, e ninguém pode dizer que está errado: enquanto tivermos razões sustentáveis para a crença, ela permanecerá real, e assim são produzidos tanto o amor universal de Jesus quanto o harém de virgens que esperam ansiosas no paraíso os kamikases islâmicos. Mesmo em tempos capitalistas, esqueça o dinheiro: o que move o mundo de verdade é, sempre foi e sempre será a Fé.

¹ http://lhsusse.blogspot.com/2006/11/gandhi.html

² definição emprestada de Aldous Huxley em "Os demônios de Loudon"